terça-feira, 4 de outubro de 2011

QUESTÕES DO CORAÇÃO

O texto que passo a transcrever neste blog foi enviado para meu e-mail pela "TRINK - tirando os trinco limitadores da realidade", e pode ser conferido em http://feedblitz.com/r.asp?l=52028821&f=406881&u=25534075&c=4078064.
Achei interessante, por isso estou disponibilizando para vocês aqui. Boa leitura e não deixe de enviar seus comentários. Obrigado!

Amor e paixão


Autor: Luciano Pillar

Quem não quer se apaixonar? E amar, quem não quer? Mas, qual a diferença entre estes sentimentos? Vamos a uma breve história fictícia, com leves pitadas de eventos reais, para lançar uma luz nesta questão.

Sentado sob uma árvore num parque vi dois jovens beijando-se apaixonadamente. Subitamente contaminado pelo clima da paixão viajei para um tempo em que eu mesmo estava apaixonado. A sensação de estar intensamente vivo era gritante e sobrepujava tudo o mais. A pessoa por quem eu me apaixonara era uma deusa que tinha mais importância do que tudo no universo. O mundo era belíssimo, acordar de manhã era uma alegria que antecedia a oportunidade de viver mais um dia, eu ouvia o cantar de cada pássaro e o som do vento. Amando e me sentindo amado eu sentia a presença divina em tudo. Eu me sentia vivo e a vida fazia sentido.

- Você já se perguntou por que vocês só costumam ver a incrível beleza da vida quando estão apaixonados? – foi uma pergunta que me pegou de surpresa, pois partiu de um senhor que estava sentado a meu lado e que eu nem sequer tinha visto chegar ali.
- Como? – meio sem jeito retruquei.
- Se uma pessoa vê a beleza da existência apenas quando está apaixonada, seria esta beleza imaginária?
- Perdão senhor, mas, eu o conheço?
- Conhece-me há muito, mas parece não lembrar. Chamam-me de Pilar. – disse-me estendendo cordialmente sua mão.

Ao apertar a mão daquela inusitada pessoa uma impressionante sensação de bem-estar e amorosidade percorreu cada célula de meu corpo e alma. Difícil descrever, mas me senti profundamente acompanhado e vi, de novo, o brilho divino na existência de tudo ao meu redor. Ele sorriu, largou minha mão, virou-se para a frente e passou a olhar para uma árvore adiante de nós com uma impressionante serenidade. Presenciei um estado de rara comunhão entre eles.

- A paixão é uma porta disponível para que qualquer um possa vislumbrar o amor.

Sem me dar tempo de expressar minha surpresa, ele continuou.

- Quem se apaixona deve lembrar desta visão do amor e buscá-lo depois em sua vida. O amor é o sentimento máximo e um dos maiores aprendizados que se espera das pessoas nesta fase de sua existência e não a paixão, que não passa de uma porta temporária.

Voltou a se aquietar e eu, diante daquele estranho que me parecia mais próximo e conhecido do que qualquer um, fui surpreendido por uma lágrima que desceu pela minha face. De repente eu estava consciente do amor, da paixão como uma forma de vislumbrá-lo e da vida cotidiana de quase todos que, sem o efeito da paixão, não conseguem sentir a grandiosidade de tudo.

- A paixão lhes permite experimentar a sensação direta do amor e não apenas suas consequências. Fazer o bem ao amado, ou até mesmo dar a vida por ele, podem ser meras consequências do amor, assim como ficar queimado é do calor. A paixão permite sentir o amor, da mesma forma que podemos sentir o calor.
- Acho que o senhor tem razão, seu Pilar.
- Querido amigo, em alguns momentos de sua vida você mesmo já experimentou a sensação do amor de forma direta, sem a necessidade da paixão. Você lembra do que lhe aconteceu no ônibus?

Estremeci. Quem era o Sr. Pilar? Como ele podia saber de mim? Por que me sinto tão bem em sua presença? Por que ele estava ali comigo?

- Sim, como poderia me esquecer?
- E então, como foi?

Fiz uma pausa que antecedeu uma apresentação maior, mas com uma estranha sensação de que o Sr. Pilar já sabia de tudo.

- Eu estava sentado no ônibus que me levava para casa depois de meu trabalho, indo para minha casa. A minha frente, várias pessoas também estavam sentadas. De repente, algo mudou e eu senti que o ônibus, a rua e os prédios do lado de fora, assim como minha casa e tudo o mais, não tinham importância alguma a não ser prover um palco onde podemos viver. E, então, aconteceu: eu amei todas aquelas pessoas! Senti um amor enorme por todos, sem exceção. Um amor maior e mais completo do que aquele que já havia sentido numa paixão, pois não havia nenhuma tensão, medo da perda ou dependência. Não havia a comum posse e nem nenhuma segunda intenção. Era um amor puro e desinteressado por todas aquelas pessoas que eu sequer conhecia. Elas não só se tornaram familiares, como também unidas a mim. Neste mundo, época e lugar eram elas que estavam ali comigo naquele ônibus e não há acaso num universo tão extremamente organizado como este.
- E quando essa sensação terminou você se perguntou o que é que acontece normalmente quando esse sentimento não está presente na sua vida cotidiana e…
- … e, Sr. Pilar, eu pergunto agora como pode o senhor saber disso? O senhor me conhece? Quem é o senhor?

Ele simplesmente não respondeu com palavras. Olhou ao redor, num estado de encantamento e união com o mundo que ali estava naquele parque. Ele realmente estava com aquelas árvores, pessoas, cães, pássaros, chão, céu e nuvens que nos cercavam e esse estado de presença dele era uma resposta em si. Eu sei quem é ele, mas meu cérebro, mente e ego mortais é que não podem acessar esse conhecimento. Resolvi não perguntar mais nada. Apenas me tornei presente ali.

- A paixão é a coisa mais próxima do amor que o espírito não desenvolvido pode experimentar. Ela faz com que a alma se revolva e saia de si mesma. Quando vivenciam essa força, mesmo as pessoas menos desenvolvidas tornam-se capazes de superar-se. – Sr. Pilar quebrou repentinamente o silêncio com estas palavras.

E continuou.

- Mas a paixão se consome em seu próprio fogo e isso costuma se tornar um problema às pessoas menos desenvolvidas. Sem entendimento, apegam-se à paixão em si e passam a buscá-la se relacionando com várias pessoas durante suas vidas. Lançam-se inconscientemente aos prazeres sensuais na expectativa de encontrarem novamente a paixão, mas o que invariavelmente descobrem é a frustração, pois não há como forçar a paixão a aparecer pela força bruta. E muito menos o amor. Agindo assim, tornam-se meros escravos dos sentidos.
- É triste. – concluí.
- E muitos confundem o amor não apenas com a paixão, mas também com outras necessidades como a sobrevivência, a posição social e a mera dependência dos hábitos de uma vida levada ao lado de outro. É muito comum que as pessoas chamem de amor a muitas coisas que não possuem relação alguma com ele.
- Você pode me dar um exemplo disso, Sr. Pilar?
- Claro. Quando pessoas que se amam se afastam uma da outra, seja qual for a razão, elas costumam se entristecer. Elas também dialogam, identificam as razões da separação, se perdoam por suas falhas e seguem suas novas vidas ajudando-se mutuamente quando necessário. Com o tempo, a tristeza passa. Isso lhe parece claro?
- Sem dúvida.
- Mas, se a tristeza ou mal-estar não passar nunca, então, ao menos uma destas pessoas se apegou à outra. Isso é uma consequência da dependência de algo passageiro – já que tudo passa – e não é originado no amor, mas no apego.
- Sim, entendo.
- Ainda é comum que a separação de uma relação supostamente amorosa resulte em sentimentos de raiva ou ódio. Estes sentimentos não vêm do amor, mas do medo. Geralmente medo de algo que nem é consciente e que foi escondido no relacionamento supostamente amoroso. Esse medo leva a diversas formas de dependência e posse.
- Já presenciei separações matrimoniais de alguns amigos e essa parece ter sido a situação mais comum. – retruquei.
- É ainda o mais comum na atual humanidade devido ao atual estágio de consciência da maioria.

Notando coerência e sabedoria nas palavras do Sr. Pilar, aproveitei para lhe indagar uma questão que me pareceu pertinente.

- Senhor, permita-me lhe perguntar uma coisa: como posso saber se devo me aproximar amorosamente de uma pessoa a despeito de sentir paixão ou não? Interesso-me muito em saber isso porque já me apaixonei e depois, com o tempo e o fim da paixão, percebi que não havia sobrado um sentimento maior.
- Caro amigo, em primeiro lugar entenda que o amor sempre existe e, apenas por isso, você o visualizou através da paixão. Lembre-se de que o amor é uma presença universal responsável pela união de tudo. Nas pessoas ele se manifesta como o maior sentimento que elas são, atualmente, capazes de experimentar. Já a paixão, você sabe, não passa de uma porta que se abre para dar passagem ao amor, mesmo ao mais atrasado dos espíritos humanos. Uma porta que abre rapidamente. E fecha, certamente.
- Sim, entendo.
- O verdadeiro amor existe entre todas as pessoas, mas ele não é visível e perceptível em sua situação normal de vida. Pelo menos não nesta fase de seu desenvolvimento. Você já sabe isso, mas a maioria ainda não.
- Mas – continuou o Sr. Pilar – quanto ao seu questionamento, eu lhe diria que você deve prestar atenção, pois existem algumas pessoas que são especialmente próximas e vocês podem até ter uma conexão maior e mais antiga do que supõe.
- Sei disso.
- Então, você deve prestar especial atenção àquelas pessoas que se aproximam de você de forma natural e harmoniosa. Observe se a presença da pessoa enriquece alegremente a sua vida. Diante destas pessoas procure não pensar nem julgar. Simplesmente não espere nada e ouça seu coração. Sinta-o falar! Você sempre sabe se souber se ouvir. Existe uma grande chance de você estar diante de alguém com quem tem uma forte conexão amorosa para que as coisas se manifestem desta maneira.

Silenciou e finalizou.

- Com o tempo você será capaz de identificar claramente estes sinais e reconhecerá as poucas pessoas com as quais você deve se envolver amorosamente compondo um casal na concepção humana. Nunca deixe passar uma oportunidade destas quando ela se apresentar e, mesmo que não se configure o relacionamento de casal, tente não se afastar desta pessoa.

Após respirar profundamente, Sr. Pilar retomou a palavra.

- Não esqueça que todos devem buscar o amor. Sentir e viver o amor pelo Criador, pelo universo, por si próprio e pelos outros. E tenha claro que a paixão ilumina temporariamente os que ainda não vêem, mas cega os outros. Ela não é o objetivo a ser alcançado.

Silenciei e sonhei com um amor leve, terno e verdadeiro. Nos braços de uma brisa morna, flutuei imerso num odor floral. Flutuei até parar entre várias pessoas desconhecidas. Virei-me e ali estava ela. Seu sorriso me fez sentir que a conhecia há eras. Entre todos foi com ela que conversei o tempo todo. Então, absortos que estávamos em nosso encontro, notamos que todos saíam a caminhar. Nos afastamos e os acompanhamos. Eu andava sozinho acompanhando o caminho dos outros quando, no mesmo instante em que senti falta dela, notei que ela estava ali, novamente a meu lado. Era ela que caminhava comigo no meio de tanta gente. E eu era feliz neste momento, simplesmente pela sua companhia. Num precioso instante da caminhada, inadvertidamente sua mão tocou na minha. Uma forte energia percorreu todo meu ser. E o dela também, pois senti seu abalo. Então, voei para longe. Voei livre e em paz. No momento em que me senti absolutamente completo e equilibrado com todo o universo, ela novamente apareceu. Ela estava ali só pelo amor que nos unia e nos atraiu a voar juntos, pois, como eu, ela também era completa e não mais precisava de outro para simplesmente ser. Voamos cercados por duas mandalas, uma minha, outra dela. Ao mesmo tempo belas e feias, representavam um passado onde estivemos presos, um momento de ruptura e uma posterior libertação. Cada uma desenhada de uma forma, cada uma por um espírito livre. Ali, flutuando entre nossas mandalas, lembramos que nos libertamos de nossas antigas prisões numa mesma época justamente porque nos uníramos e, assim, ficamos fortalecidos pelo nosso amor. Voando livremente pudemos ver que o amor permanecia, pois ele próprio é atemporal. Beijamo-nos profundamente. Nossos lábios moldavam-se naturalmente um ao outro de tal forma que se tornaram um. Nossas mãos se entrelaçaram em todos os corpos. O odor dela, doce e suave, tornou-se um com o meu. Nossos corpos desnudos se uniram e reuniram, fundindo-se num só. Livres, banhados num imenso oceano de amor, voamos juntos. Rodopiando num estado de sublime reunião com o Todo nos amamos e nos penetramos em todos os tempos, todas as dimensões, todas as vidas. Meu doce e suave amor, há quanto tempo esperei por este momento!

Abri os olhos lentamente e percebi que sou livre. E que conheço o amor.

Olhei para o Sr. Pilar e vi que o amava. Novamente eu me sentia como no evento do ônibus. Não havia o pensar e a razão, mas algo acima disso. Eu amava aquele senhor, as pessoas que ali estavam, a árvore cujas folhas balançavam ao vento assim como este que trazia um agradável frescor a nós. Eu amava profundamente o Criador e isso era Tudo!

Então entendi que o Amor divino e universal é muito maior do que o amor humano, cheio de suas próprias intenções e necessidades de compensações. O Amor divino, também presente em nós, é puro e incondicional. Percebi que eu já não tinha muitas perguntas e, quando entendi que a paixão é apenas um recurso para despertar a visão temporária do amor naqueles que ainda estão adormecidos, passei a admirá-la ainda mais, por um lado, e a valorizá-la menos, por outro. Entendi que a paixão, para seres como o Sr. Pilar, é um sentimento superado, pois ele sente, constantemente, algo muito maior do que ela. Algo que provoca sensações bastante mais intensas e profundas. Algo a que chamamos de amor. Com o incremento do desenvolvimento e da consciência, uma pessoa passa a perceber e a viver o Amor divino que está presente na essência de tudo, inclusive na sua.

O Sr. Pilar sumira da mesma forma como aparecera. Isso não me surpreendeu. Com amor me levantei e algumas pessoas olharam simultaneamente para mim com um sorriso estampado em suas faces. Não me surpreendi novamente, sorri para elas e sai. Amamo-nos ali.

Referências (as cores indicam transcrições literais feitas neste texto):

Palestra 44 de Eva Pierrakos; Pathwork (http://www.pathwork.org/); Pw044-AS FORCAS DO AMOR, DE EROS E DA SEXUALIDADE.doc
A história do amor no ônibus é fato real vivenciado por Luciano Pillar, autor deste texto, e foi descrita tal e qual aconteceu.

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