segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

GANDHI E MANDELA: OS ADVOGADOS DE AHIMSA


Quando, ao estudarmos a História, aprendemos que a Ásia e a África são consideradas berços da civilização, ainda estamos longe de imaginar o que mais aqueles continentes teriam a oferecer para a raça humana além do desenvolvimento da própria espécie. Na história oficial, a Mesopotâmia (em grego, terra entre dois rios), recorrentemente citada no Velho Testamento, é apresentada como a região onde floresceram grandes civilizações, dentre as quais o povo hebreu; já o Mahabharata, poema épico hindu, trata sobre os povos arianos que viviam no reino dos Bharatas (possivelmente a Índia, da Idade do Ouro). Também a África, de uma forma geral, é apontada como a região onde teria surgido o Homo Sapiens (por volta de 300.000 anos atrás) e dali se espalhado por todo o planeta. Muita coisa se passou de lá até aqui, em ambos os continentes, porém, na história recente da civilização humana, os séculos 19 e 20 nos surpreenderam não com o aparecimento de uma nova espécie de hominídeo, mas com dois grandes exemplares da espécie humana: Mohandas K. Gandhi e Nelson Mandela, um indiano e o outro, sul-africano, respectivamente.

Se hoje a Índia é um país livre e a África do Sul é mais feliz, isso se deve ao ativismo político, à força de caráter e à determinação de dois dos maiores exemplares humanos dos últimos dois séculos – Mahatma Gandhi e Nelson Mandela. Curiosamente, ambos têm algo mais em comum, além dessas características acima citadas. A África do Sul, embora não sendo o país de origem de Gandhi, foi o local do despertar do espírito libertador, tanto dele quanto de Mandela, e ambos foram advogados – mais que meros advogados, verdadeiros promotores da não violência.

Durante 21 anos (de 1893 a 1914), o jovem advogado indiano, Mohandas Karamchand Gandhi (1869-1948), incumbiu-se da difícil missão de defender uma causa civil que recebeu de uma companhia comercial de Porbandar – 150.000 indianos vivendo e trabalhando sob condições injustas na África do Sul. Ali, começaria a ser esboçado um “gigante”, que aprenderia a lidar com as injustiças humanas de forma messiânica e desenvolveria seus próprios métodos pacíficos de alcançar seus objetivos. O primeiro deles foi chamado de satyagraha que, “interpretado habitualmente como ‘resistência passiva’, significa literalmente, como explica o próprio Gandhi, insistência pela verdade”, e outro, ahimsa, que é a exata expressão e prática da não-violência.

Com seu carisma, Gandhi logo tornou-se um líder dos indianos na África do Sul; procurou atenuar os atritos que encontrou e promover a educação e a higiene, que eram precárias por lá. “Criou uma associação de cultura indiana e fundou o jornal Indian Opinion e, mais tarde, o Young India que, espelhando seu pensamento, divulgavam notícias e davam pistas para conduta dos indianos”.

Aqueles 21 anos na África do Sul não foram nada fáceis para o destemido advogado indiano, cuja fidelidade aos princípios muitas vezes levou a sofrer todo tipo de violência, prisões e ameaças de morte. Mas nada disso foi suficiente para dobrar seu espírito indomável. Tendo cumprido brilhantemente seu compromisso no continente africano junto aos seus compatriotas, regressou à Índia, em 1915, para um novo e mais terrível desafio, que só terminaria com a libertação da sua pátria do domínio britânico e, infelizmente, com sua morte, 33 anos mais tarde.

Engana-se, porém, quem pensa que aquele que seria respeitado como o pai da Índia livre sempre fora um homem conciliador e exemplar. Seu temperamento, quando mais jovem, era difícil; ele era de natureza violenta, egoísta, ambicioso e até, poder-se-ia dizer, cruel. A mudança radical só veio após ele próprio reconhecer esses desvios em seu caráter e realizar um esforço consciente de modificar-se. Aí então começou a surgir o “Mahatma” (a grande alma), como ficaria conhecido.

Nessa luta pela libertação da Índia, foi muitas vezes preso, agredido pelos soldados ingleses e pressionado por facções políticas e religiosas, hindus e mulçumanas. Por diversas vezes recorreu ao jejum extremo para abrandar os conflitos internos ou forçar a Coroa Britânica a fazer concessões em favor dos indianos. Chamava as cadeias inglesas de “os hotéis de Sua Majestade”. Em 1913, após conduzir uma marcha, com mais de 20 mil pessoas, Gandhi foi preso, mas solto em seguida, sob pagamento de fiança. Essa seria apenas a primeira vez de muitas outras. Em 1922, por exemplo, depois de uma manifestação de “desobediência pacífica”, foi condenado a 6 anos de prisão, mas, dois anos depois, teve que ser solto, para passar por uma cirurgia de apendicite. Sua esposa, Kasturbai Makanji, com a qual casara, conforme os costumes indianos, ainda aos treze anos de idade, muitas vezes foi presa junto com o marido, sempre fiel a seus ideais e a seus próprios valores indianos. Sua morte, em fevereiro de 1943, foi sem dúvida um dos piores golpes em sua vida, o que viria a agravar sua saúde já frágil.

A 15 de agosto de 1947 a Índia conquista sua liberdade, mas, para dsgosto de Gandhi, passa a ser dividida em dois países: Índia e Paquistão. Em 30 de janeiro do ano seguinte, ao sair para sua caminhada, acompanhado por aproximadamente 500 pessoas que com ele iriam orar, Gandhi é assassinado, aos 78 ano, por Nathuram Vinayak, um hindu fanático, insatisfeito com a convivência tolerada pelo Mahatma com os mulçumanos. Ao levar o tiro fatal, o Mahatma teria dito apenas “He Rama!” (Ó Deus!).

Não existe, na história real da Índia, um nome maior do que o de Mahatma Gandhi. Sua epopeia só é comparável aos clássicos da literatura mítica hindu, como Bhagavad-Gita, no qual se narra a batalha entre os Pandavas e os Kauravas e os ensinamentos de Krishna ao general e discípulo Arjuna, e o Ramayana, no qual se lê os esforços de Rama e seu fiel companheiro Hanuman para salvar sua esposa, Sita, das mãos do perverso demônio, Ravana. Mas Gandhi não foi um personagem da mitologia hindu; ele foi um personagem histórico, um homem real que, como bem enfatizou Albert Einstein, ao declarar-se a seu respeito logo após sua morte, “Talvez as gerações futuras dificilmente acreditarão que alguém como ele, em carne e osso, tenha caminhado, um dia, sobre a terra”. Na verdade, dizer que Mahatma Gandhi foi apenas um homem é quase uma blasfêmia, é um despropósito – Gandhi foi um fenômeno que ocorreu na Índia e arregalou os olhos do mundo; um evento cósmico, universal, tão inusitado em probabilidades humanas que deixa marcas indeléveis na história da humanidade.

Três anos após o retorno de Gandhi à Índia, nascia na África do Sul, na província de Cabo Leste, mais precisamente num pequeno vilarejo de nome Qunu, do clã dos Madiba (aquele que puxa para cima o ramo de uma árvore, em tradução livre), Rolihlahla Dalibhunga Mandela . “Nelson” só seria acrescentado ao seu nome de batismo, anos mais tarde quando, já na escola, uma professora, atendendo a um costume da escola, resolveu dar-lhe um nome inglês. Seja como for, no ano de 1918, não só para a alegria África do Sul, mas para o mundo inteiro, nascia Nelson Mandela, o líder sul-africano que ensinaria a todos outra grande lição de persistência, resistência e força de caráter, assim como fora a de Mahatma Gandhi.

Anos mais tarde, já na Universidade de Fort Hare, começa a surgir o embrião de um ativista político. Ali fez muitos amigos, com os quais formaria, mais tarde, o núcleo de comando do Congresso Nacional Africano. Também participou de várias manifestações, uma delas contra a baixa qualidade da comida, e mesmo tendo boicotado, junto com outros colegas, a eleição do conselho de estudantes, acabou eleito. Apesar disso, Mandela foi aconselhado a não assumir o cargo, embora o reitor tenha lhe impingido duas opções: assumir ou deixar a faculdade. A despeito desse contratempo, em 1943, Mandela ingressa no curso jurídico da Universidade de Witwatersrand, onde gradua-se. Desde o ano anterior ano, já freqüentava informalmente as reuniões do CNA. Em 1949, o governo sul-africano aprovou o regime segregacionista, denominado Apartheid. Em 1951, Mandela foi eleito presidente da Liga Juvenil do CNA (ANCYL, em inglês) e, no ano seguinte, presidente do CNA na província de Transvaal, passando à vice-presidência nacional da instituição. Embora em 1953, em Sophiatown, Mandela tenha proferido um discurso em que pela primeira vez diz que os tempos da resistência passiva tinham passado, sua trajetória de resistência demonstrou-se mais pacífica do que nunca. Mas isso não evitou que tivesse sofrido restrições e sua desobediência a elas culminasse em sua prisão, a 5 de dezembro de 1956, época em que, apesar de ainda morar junto com sua mulher, Evelyn, completamente avessa à política e agora testemunha de Jeová, já não viviam como casados.

Em breve, Mandela estaria em liberdade, enquanto aguardava seu julgamento por traição. Nessa ocasião foi que viu, pela primeira vez, Winifred Zanyiwe Madikizela parada num ponto de ônibus, em seu uniforme de enfermeira, que logo se tornaria sua esposa, ficando conhecida no mundo todo como Winnie Mandela. Esse casamento, porém, surgiu em tempos muito turbulentos. Em 8 de abril de 1960, o CNA foi proibido e Mandela fica preso até o ano seguinte, quando passa para a clandestinidade, sendo obrigado a ver a esposa em encontros furtivos, que precisavam ser planejados com a máxima segurança.

Embora o princípio da não-violência continuasse a nortear o CNA, eventos, com ataques mortais por parte do apartheid, levaram o Chefe Luthuli a autorizar que Mandela levasse a cabo a constituição de um movimento de resistência pelas armas. Mandela, então, chega a declarar: "Nós adotamos a atitude de não violência só até o ponto em que as condições o permitiram. Quando as condições foram contrárias, abandonamos imediatamente a não violência e usamos os métodos ditados pelas condições”. No início dos anos de 1960, Mandela viaja a muitos países, como Inglaterra, Libéria, Nigéria, Botsuana, Etiópia, Egito, Marrocos, em busca de conhecimentos sobre estratégias de guerra e de guerrilhas. Enquanto isso, na África do Sul, a polícia está de prontidão para capturá-lo, assim ouvir rumores de seu retorno ao país. E, em 5 de agosto de 1962, a prisão acontece. Inicialmente, a detenção seria por 5 anos, mas, após a polícia encontrar documentos comprometedores sobre ele, um novo julgamento com acusações mais graves, sendo condenado à prisão perpétua, em 11 de junho de 1964. Em sua defesa, fez o seguinte discurso: "Durante a minha vida, dediquei-me a essa luta do povo africano. Lutei contra a dominação branca, lutei contra a dominação negra. Acalentei o ideal de uma sociedade livre e democrática na qual as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal para o qual espero viver e realizar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer".

Mas Nelson Mandela, o Madiba querido dos sul-africanos não morreria ainda – não dessa vez! O prisioneiro 46664, que ocupou uma cela de 2,5 por 2,1 metros, na prisão da Ilha de Robben, seria “hóspede” de outras prisões da África do Sul. Em 1982, Mandela, juntamente com outros presos, foi transferido para a prisão de Pollsmor, de segurança máxima; seis anos depois, foi novamente transferido, agora para um presídio de segurança mínima - a prisão de Victor Verster, passando a morar numa cabana no complexo penitenciário. O certo é que Nelson Mandela passou 27 anos de sua vida atrás das grades, sendo liberto em definitivo somente em 11 de novembro de 1990. Na ocasião, uma multidão de sul-africanos o esperava na saída da prisão de Victor Verster (hoje chamada de Drakenstein) para saúda-lo como pai da nação negra sul-africana, embora para ele não houvesse diferença entre estes e os sul-africanos brancos, pois todos formavam a mesma e única nação, à qual ele sacrificara quase três décadas da sua vida para ver liberta da diferença e da segregação raciais. Sobre isso, ele havia declarado: "Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor de sua pele, da sua origem ou da sua religião. Para odiar, é preciso aprender. E, se podem aprender a odiar, as pessoas também podem aprender a amar”.

Dali em diante, dias melhores e ventos mais favoráveis acalentam a vida sofrida do líder sul-africano. Em 1993, recebe o Prêmio Nobel da Paz, juntamente com Frederik de Klerk, que intermediou o período de transição, que culminaria com a eleição de Mandela para a Presidência do país, no ano seguinte. Em seu discurso, ao receber o Nobel, assinalou: "O valor deste prêmio que dividimos será e deve ser medido pela alegre paz que triunfamos, porque a humanidade comum que une negros e brancos em uma só raça humana teria dito a cada um de nós que devemos viver como as crianças do paraíso". Também fez questão de prestar homenagem a Frederik de Klerk, dizendo que ele “teve a coragem de admitir que um terrível mal tinha sido feito para o nosso país e nosso povo com a imposição do sistema apartheid”.

O escritor sul-africano, André Brink, em artigo publicado logo depois que Mandela encerrou seu mandato, cita-o como o maior nome do século XX; comparando-o a outros expoentes, como Gandhi e Martin Luther King Jr. Curiosamente, um biógrafo de Gandhi não hesitara em escrever, anos antes: “Com o fenômeno Gandhi entrou a história da humanidade numa nova fase de evolução. O mundo não pode mais ser o mesmo depois de Gandhi. Temos agora novas perspectivas para nosso viver ético, cultural, e espiritual”. Então, ao que parece, a semente que fora lançada, anos atrás, ali mesmo, no solo sul-africano, por fim vingara – e como vingara! A pequena, porém vigorosa semente de ahimsa, fez brotar uma nova flor – Nelson Mandela. Então, que venham os novos frutos, as novas flores, enfim a Primavera inteira. A humanidade está sedenta, faminta, de “Humanidade”.

sábado, 28 de setembro de 2013

EM BUSCA DE UM NOVO PARADIGMA

ANÁLISE DO FILME “PONTO DE MUTAÇÃO”*

A ideia, ao longo de todo do livro “The Turning Point” (Ponto de Mutação) do Capra, que virou filme, é demonstrar a inviabilidade da fragmentação da realidade, feita tanto pela ciência quanto por outras vertentes do pensamento, da modernidade até nossos dias, diante do fracasso que esse modelo parece apresentar às questões humanas fundamentais, uma vez que ele se ocupa em cuidar, tratar, consertar a parte, sem levar em conta sua totalidade, vez por outra, confundindo-se com um mero paliativo para os nossos problemas cruciais, como meio ambiente, recursos naturais, saúde e outros.

É claro que, por um longo tempo, esse modelo cartesiano pareceu satisfatório, e ainda há situações em que ele parece ser útil. No entanto, o que Capra propõe é uma saída urgente da dependência desse paradigma, antes que, segundo ele, haja um colapso, uma situação que nos tire a possibilidade de avançar e até mesmo de viver, enquanto seres humanos, enquanto componentes da natureza. Essa visão é compartilhada por outros cientistas que, de certa forma, se sentem frustrados com os métodos científicos até aqui empregados, sendo que, no filme, esses cientistas, e o próprio Fritjof Capra, são representados por Sonia, a cientista que conduz as discussões.

Ora, é necessário, porém, dizer que toda a lógica tem por modus operandi fragmentar. É assim que ela se articula com maestria e seduz o pensador e o cientista, pela capacidade que a fragmentação tem de dar a ele segurança no que pensa e no que faz. Porém, essa segurança nem sempre, ou melhor, no mais das vezes, não é sinônimo de verdade. Ou seja, esse estado agradável que vem desse seguir passo a passo em direção a uma resposta aos problemas humanos, muitas vezes, resulta em algo paliativo, temporário em sua eficácia. Isso porque não se levou em conta o todo, como pertencente ou participante do problema.

É por essa razão que autor nos apresenta três vertentes, três representantes do pensamento e da sociedade: uma cientista, um político e um poeta. Curiosamente, é a cientista que questiona o velho paradigma, julga-o e propõe a mudança. Ora, evidentemente, essa cientista é, por assim dizer, o alter-ego do próprio Capra – aquele que viu que o pensamento e a ciência já não poderiam seguir como antes, considerando em pedaços, de forma fragmentada, negligenciando o todo, incapaz de uma visão holística. Importante também é perceber que Capra vai beber nas fontes orientais, como um contraponto ao pensamento ocidental. Seu livro é fortemente baseado no I Ching dos chineses. Como se vê, Capra não apresenta algo tão novo assim – é verdade que sua proposta de mudança de paradigma é de certa forma inusitada, mas, se é capaz de surpreender ou chocar os ocidentais, não deve causar o mesmo nos orientais, porque a estes isso já é, há muito, conhecido. Além disso, de certa forma, a ciência em si não é tão diferente assim lá e cá, e quando lá a ciência se apresenta diferente, na medicina chinesa ou indiana, por exemplo, quase não é considerada no Ocidente como um ciência de fato.


Bem, o que Capra propõe é um imenso desafio, porque, como já disse , a própria lógica trabalha com tijolinhos e não com estruturas completas e prontas – isso é seu fim, é o resultado do seu trabalho, não o processo para esse fim. Esse desafio é posto aos três personagens, como representantes de suas categorias, e cada um deverá responder, reagir a esse desafio, de modo peculiar. O mais importante na obra de Capra é a exigência que se impõe ali de se refletir sobre o que temos feito até com o nosso mundo, a partir desse olhar obsoleto que lançamos até aqui sobre ele, desconsiderando apenas o que é imediato. Portanto, observo que esse cientista, seja a personagem do filme, seja o próprio Capra, são, em última instância, o filósofo, uma vez que cabe ao filósofo propor um lançar-se adiante, mas não cabe a ele dar respostas.

A Filosofia é considerada a mãe de todas as ciências e o conhecimento humano, a meu ver, tem duas importantes alavancas – a curiosidade e a necessidade. A curiosidade pode até nos permitir o uso e mesmo o abuso do tempo, a necessidade, jamais.


CONSIDERAÇÕES PARA O DEBATE

- A lógica considera um fragmento, estuda-o e ocupa-se dele até apontar um novo fragmento do qual o estudo deve se ocupar;

- Um dos personagens lembra a “Dança de Shiva”, referindo-se ao movimento do Universo, porque Shiva é o arquétipo da mudança e a sua dança representa o constante estado instável das coisas no mundo;

-A fragmentação não deve ser confundida com o mergulho em si mesmo, porque esse “si mesmo” não é o ego, e sim o todo do ser;

- Sonia, a cientista, também representa o ermitão, o santo retirado do mundo. Ela se isola em sua sabedoria e já não sabe lidar nem mesmo com suas relações pessoais, sua filha, por exemplo. Sua introspecção é uma exigência, sua negação em ver seu trabalho sendo utilizado para fins militares a inoja, seu isolamento é necessário para a gestão do novo paradigma. Mas como fazer isso vivendo no mundo, atuando profissionalmente, levando em frente as relações pessoais e seus conflitos diários?

- Sentir o universo é um trabalho interior, diz um dos personagens;

- Não seguir o velho padrão é frustrante, pois nele você tem logo ali “algo”, sem ele, é complicado, você se sente minúsculo diante do todo; na lógica há segurança, há certezas quase palpáveis, que são “verdades” por um bom tempo;

- O acaso, a coincidência, apesar de serem considerados logicamente, como possibilidades, não são do âmbito da lógica – ela precisa de certezas, possibilidades prováveis;

- A Poesia transcende a lógica, escapa dela; a poesia, tomada racionalmente, até confunde; o poeta perde a identidade, esquece o próprio nome;

- Visão mecanicista é igual a pensamento cientificista; lógica é igual à razão; como sair dessa teia?

- Consertar uma parte não resolve o problema do todo – a Ciência vive uma “Crise de Percepção”;

- Tudo o que funciona é bom?
- A noção do Karma foi expressa em “A dor foi embora, mas a causa não, então a dor pode voltar”;

- O tempo que a lógica pode dar conta e a visão humana embasada nos padrões da lógica são parciais. Então, que tipo de tempo podemos ter acesso, de forma a perceber completamente o seu movimento, e que abordagem podemos ter dos desafios e das necessidades humanas, deixando o paradigma da fragmentação?

* Este artigo é resultante do debate ocorrido na aula de Mestrado em Saúde e Ambiente, ministrada pela Profª. Drª. Andrea Alac (UFMA), no qual participei, juntamente com o artista plástico Claudio Costa, como um dos debatedores.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

BUDA, A JOIA RARA DO MUNDO


“Havia em Kapilavastu, um rei sákia, firme em seus propósitos e reverenciado pelos homens, um dos descendentes de Ikchvaku, chamado Suddhodana. Sua esposa, Mayadevi, era maravilhosamente bela, como um lírio aquático, e de coração tão puro como a lótus. Qual rainha do céu, vivia na terra, imaculada e pura de desejos. Seu real marido reverenciava-a por sua santidade, e o espírito de verdade desceu sobre ela.”

Não fossem os nomes incomuns, esse trecho, retirado do livro O Evangelho de Buda, seria facilmente confundido com a história natalina, que narra a concepção do menino Jesus e seus pais, José e Maria. Mas, como acabo de explicar, esse é o relato sobre os pais de Siddhartha Gautama, mais conhecido como o Buda (ou Sakyamuni, o sábio entre os sákyas). Por volta de 565 a.C, nascia em Lumbini*, hoje território ao sul do Nepal, o filho do rei Suddhodana, que renunciou a tudo para buscar a “iluminação” e trazer respostas ao mundo sobre a causa do sofrimento e de todas as misérias existenciais. Embora envolto por riquezas e protegido pelo pai de ter contato com doentes, velhos e pobres, “para não conhecer as misérias do mundo”, e, além disso, mais tarde se casar com a bela Yashodara, nada disso impediu que aquele menino, a quem se dizia “predestinado”, empreendesse uma viagem solitária até a floresta e lá, debaixo de uma árvore, se pusesse a meditar profundamente em busca das respostas que tanto desejava.

“Siddhartha sentou-se sob a frondosa árvore Bo, chamada também Azvattha, ou Banano, e entregou-se aos seus pensamentos, meditando sobre a vida e a morte, os males e a decrepitude. Concentrando seu espírito, libertou-se de toda confusão. Todos os vis desejos desapareceram e uma calma perfeita o inundou completamente.”

Siddhartha foi contemporâneo do sábio grego Sócrates e sábio chinês Confúcio, mas Jesus, ao que se sabe, só nasceria uns cinco séculos depois deles. Termos como compaixão, piedade e humildade, que parecem tão próprios do cristianismo, já eram usados e praticados bem antes do Cristo. Naqueles tempos, por toda aquela região circundante do Himalaia, o que havia era o Brahmanismo. Siddhartha, depois de desperto e até mesmo antes de alcançar a iluminação, já questionava os rituais bramânicos e adoração aos deuses.

“O Tathágata foi depois ver os sacerdotes que oficiavam nos templos, e seu ser compassivo estremeceu ao presenciar a inútil crueldade realizada ante os altares dos deuses.
– Unicamente por ignorância esses homens realizam ruidosas festas e convocam magnas assembleias para celebrar cruentos sacrifícios. Vale mais adorar a Verdade do que o vão desejo de agradar os deuses com efusão de sangue”; e acrescentou: “Os ritos são ineficazes; as orações são fórmulas vãmente repetidas; os feitiços carecem de virtude salutífera.”

Antes, ele já teria dito: “Será que os deuses também estão precisando de auxílio? São tão fracos que não podem salvar os que com tristeza nos lábios os invocam?”
Somente um estudo criterioso sobre este tema, o budismo e o buda, poderá trazer à luz uma verdade há muito ofuscada pela força da tradição religiosa e popular – a de que, de forma nenhuma, o Buda renegaria e repudiaria o Bramanismo ou Vaishnavismo, para criar outro “ismo”. Somente aos sacerdotes, que se dizem herdeiros dos ensinamentos do Buda, interessa criar um rol de liturgias e ritos, para assim manter um séqüito de praticantes fiéis a um credo e não à Verdade, como se pode comprovar no que vem em seguida:
“Buda, homem santo completamente iluminado, continuou mantendo os pontos positivos da cultura existente e expurgando suas deficiências. Ele, que em resposta ao fanatismo ensinava a maravilha do espírito humano, reagiu com todas as suas forças contra o pensamento de que a humanidade era dividida em classes por natureza e como um médico, tendo reconhecido a doença, prescreveu o remédio e a sua posologia.
Buda com seus ensinamentos causou um grande reboliço pois rejeitava as seitas que continham instruções incorretas, preocupava-se com a igualdade humana, propagava princípios altamente humanísticos numa sociedade de castas, preocupava-se em desenvolver o pensamento e afastar as doutrinas enganadoras, bem como acabar com os complicados rituais. Além disso, pregava o amor, a compaixão e a simplicidade como caminho da purificação”, diz o monge budista Zen Getúlio Taigen.

Os homens comuns, sim, têm necessidade de fundar “ismos”, dedicar-se forçosamente a certas práticas, por mais insanas e dolorosas que sejam, no vã afã de domar seus instintos ou, como dizem, dominar a carne em nome do espírito. Tolos que são, pois nada disso foi ensinado pelo “Iluminado” e mesmo as suas prováveis reencarnações jamais perpetuariam tais tradições, uma vez que, sendo ainda ele mesmo, o mesmo Buda, seria um absurdo que desse apoio ao que outrora repudiara.

“O início do budismo está ligado ao hinduísmo, religião na qual Buda é considerado a encarnação ou avatar de Vishnu. Esta religião teve seu crescimento interrompido na Índia a partir do século VII, com o avanço do islamismo e com a formação do grande império árabe. Mesmo assim, os ensinamentos cresceram e se espalharam pela Ásia. Em cada cultura foi adaptado, ganhando características próprias em cada região.”

Ao longo dos séculos, o budismo se diversificou em muitas formas, mas existem pelo menos duas que vingaram ou são mais conhecidas nos dias atuais: o da Escola Theravada e o da Mahayana. "A primeira grande divisão dos praticantes budistas na Índia aconteceu cerca de 100 anos depois da morte de Buda (entre 500 e 400 A.C.), quando houve divergências sobre a doutrina".

“Foi no século VIII que o rei do Tibete convidou o grande mestre indiano Padmasambhava a ir ao Tibete ensinar o budismo. Na altura, o Tibete era povoado de seres rudes que possuíam como religião uma forma de xamanismo chamada Bön. [...] o Budismo adaptou-se à mentalidade e moldou-se aos costumes dos tibetanos. Ganhou raízes e properou através dos séculos até pouco tempo, quando nos anos cinquenta o Tibete foi invadido pelos chineses.”

Como bem está escrito num site, “com ar de cinema”, estreia hoje, no horário das 18h, a novela Joia Rara, de Thelma Guedes e Duca Rachid, inspirada na filosofia budista e ambientada no período que sucede a segunda Guerra Mundial – entre 1934 e 1945. "A base da novela é uma história de amor totalmente shakespeariana. A reencarnação de um monge é fruto dessa paixão, que vive em meio aos primeiros ecos da guerra e à boêmia da época", detalhou Duca. Em meio a uma trama de amor, ódio, intrigas e vinganças, a novela vai trazer também a cultura e a filosofia budistas e reforçar, de certa forma, o que até hoje é apregoado, do Oriente ao Ocidente – que Siddhartha Gautama, o Buda, teria fundado uma religião – o budismo, com seus rituais e suas preces –, quando ele, na verdade, repudiara tais práticas em seu tempo e apenas recomendara, aos que sentaram-se ao seu redor para ouvir, a busca da Verdade, com sinceridade e destemor.

Evidentemente que a emissora, através da produção da novela, procurou se respaldar ao máximo do que é vigente, apesar de errôneo, a respeito do budismo. No entanto, fica aqui a ressalva de que com isso a Globo apenas propaga e perpetua um erro.
Para encerra este artigo, gostaria de lembrar que aqui não se trata apenas de mero ponto-de-vista meu, pois o objetivo maior deste texto é trazer à luz as conquistas dos Avatares (como Krishna, Buda e Cristoo, por exemplo) e as distorções surgidas a partir dos seus ensinamentos, que em breve se tornam religiões, fazendo deturpar todo o esforço empreendido pelos "Iluminados". Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça!

“Buda não é Deus segundo a concepção do Budismo. Buda significa “aquele que despertou de um sono profundo”. Buda é um estado de Ser. Todos nós somos Buda, apenas estamos adormecidos deste estado." (Nello Júnior)

“Estudar o Caminho de Buda é estudar a si mesmo.
Estudar a si mesmo é esquecer-se de si mesmo.
Esquecer-se de si mesmo é ser iluminado por tudo o que existe. Transcender corpo e mente seus e dos outros. Nenhum traço de iluminação permanece e a iluminação é colocada a disposição de todos os seres.” - Mestre Zen Eihei Dogen (1200-1253)


*Lumbini, palavra sânscrita, que significa “a adorável”, é um dos quatro lugares sagrados de peregrinação budista. Está localizado no Nepal, no sopé dos Himalayas , a 25 km a leste da cidade nepalesa de Kapilavastu, distrito Rupandehi, perto da fronteira indiana.

Fontes de Referências:
O Evangelho de Buda, de Yogi Kharishnanda, Ed. Pensamento;

http://www.suapesquisa.com/budismo/

http://bemzen.uol.com.br/noticias/ver/2012/06/30/870-budismo-o-surgimento

http://diversao.terra.com.br/tv/novelas/com-ar-de-cinema-joia-rara-estreia-nesta-segunda-veja-quem-e-quem,6aebb01d5bd11410VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html,

http://blog.opovo.com.br/yoga/227/

domingo, 8 de setembro de 2013

CARAS-PINTADAS, MASCARADOS E DESCARADOS



De repente, o “gigante” acordou. E fez muito barulho, pois sua energia veio da força jovem, de adolescentes, jovens e adultos que represaram durante anos sua repulsa, sua indignação e revolta com a corrupção política, o descompromisso dos políticos com seus eleitores e, em primeiro plano, o aumento na tarifa do transporte público. As ruas inflamaram, literalmente, e as praças viraram locais de uma manifestação incontrolável, uma vez que, infiltrados entre os manifestantes “sangue bom”, estavam ali aqueles que só tinham por objetivo causar o caos nas cidades, com atos de vandalismo, que em nada favorecem a legalidade dos movimentos e só ofuscam o brilho e a força das reivindicações,e que, portanto, não podem ser apoiados, de forma alguma, por qualquer de nós que saiba o real valor do direito democrático de se manifestar.

Policiais e políticos tiveram de encarar essa força jovem. Uns, utilizando recursos legais ou truculentos, como bombas de efeito moral e spray de pimenta, indiscriminada e injustificavelmente; os outros, tentando viabilizar projetos que “agradassem” o povo e sugerindo plebiscitos, como respostas desesperadas ao que não conseguiam conter. O certo é que de junho para cá tem havido uma série de conflitos entre manifestantes e policiais, provocando assim novas medidas, como a atual proibição das pessoas se manifestarem com o rosto coberto por máscaras ou por outro qualquer artifício que prejudique a sua identificação, no imediato momento de sua atuação ou, posteriormente, através das imagens captadas por câmeras de rua ou de emissoras de tv.

As autoridades, por todo o país, respaldando-se (dizem) numa interpretação errônea da nossa Constituição (inciso IV do artigo 5º, onde lê-se: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o seu anonimato”), desde então, deliberaram que a polícia teria o poder de exigir a retirada da máscara (ou, como já disse, qualquer outro artefato), sob pena de prender tal manifestante que se recusasse a fazê-lo. A emenda foi pior do que o soneto, evidentemente! A partir daí, os desentendimentos entre manifestantes e policiais se agravaram e a violência nas ruas ganhou ainda maiores proporções, como se pode ver neste 7 de setembro.

Voltando um pouco no passado, gostaria de lembrar aqui dos “caras-pintadas”, que se manifestaram fortemente contra o Governo Collor de Mello e contribuíram para o seu impeachment, em 1992. Naquela ocasião, sair às ruas de rosto pintado foi considerado um ato de patriotismo, hoje, ir para a rua de rosto coberto é considerado “crime” pelos governantes do país. Será que é assim somente porque desta vez a força juvenil, sua indumentária de luta e os motivos são exatamente contra eles? O fato é que os manifestantes não se dobraram a essas deliberações autoritárias do poder político. Muito pelo contrário, fizeram dessa truculência e desse desmando político a força motriz para saírem novamente, e com mais razão, às ruas.

Enfim, nosso grande problema, ao meu ver e a História passada, atual e futura se encarregará de comprovar, não são os jovens caras-pintadas ou mascarados, uma vez que estes nada mais fizeram e estão fazendo do que se manifestar democraticamente contra uma realidade sociopolítica insuportável e insustentável, mas sim “os descarados” – os políticos das várias esferas dos poderes executivo e legislativo deste país -, que insistem em querer deixar o povo brasileiro com “cara-de-palhaço”.

sábado, 25 de maio de 2013

NAS BANCAS EM DOSE DUPLA

DOIS ARTIGOS, DUAS REVISTAS, DUAS EDITORAS


Chegando à marca de 23 publicações, só de 2010 para cá, este mês, tenho a satisfação de ver se repetir uma façanha que realizei em julho de 2010 - ter dois artigos nas bancas de revistas ao mesmo tempo, em revistas de diferentes editoras.


Naquela ocasião auspiciosa (julho/2010), o evento foi por demais marcante, pois tratava-se da minha estreia na revista Planeta e, por conseguinte, na Editora Três. Ora, o que havia de marcante nisso? Pois, bem. A revista Planeta foi (e ainda é, apesar de ter mudado o seu perfil) uma de minhas preferidas das décadas de 1980 e 1990,e, agora eu me via não um mero leitor, e sim um articulista dela - que conquista!

O artigo publicado foi "Agir ou não agir - eis a questão", que trata sobre como recorrer aos ensinamentos deixados pelos grandes mestres da humanidade, nas horas difíceis (dark hours, como disseram The Beatles). O outro, que também estava nas bancas à mesma época foi "Demasiado Humano?", no qual trato da dificuldade do ser humano em viver sem ser "o inimigo de si mesmo" (Homo homini lupus, como sentenciou Hobbes).

Nesta ocasião, trata-se da publicação de dois artigos, um na revista Grandes Temas do Conhecimento - Filosofia (Mythos Editora) e outro na Conhecimento Prático - Filosofia (Editora Escala).


No primeiro, "Deus: solução ou problema?", eu abordo a polêmica sempre-existente entre religiosos e não-religiosos da existência ou não de Deus, isto é, não trata-se ali do Deus-criador, mas do Deus-salvador, sempre auxiliando a humanidade, como a uma filha dileta. Enfoco também a questão dos religiosos se dizerem indivíduos mais bem qualificados moralmente (pois, para eles, sem a religião, a imoralidade toma conta dos espírito humano e, por conseguinte, de seus atos) e dos não-religiosos e ateus se intitularem mais racionais e inteligentes; no segundo, "O verniz e a piolhagem na Educação", faço uma crítica, a partir do pensamento nietzschiano (que foi tema de um outro artigo meu, "A Transvaloração da Educaçao", e gerou uma palestra na Faculdade FAMA/Pitágoras em setembro do ano passado), ao sistema educacional brasileiro e aos personagens inseridos nele, a saber: professores e gestores.


Lembrando que minha primeira publicação em revista nacional foi em outubro de 2006, com "Um dançarino chamado Zaratustra" (adaptação de um dos capítulos de minha monografia de conclusão de curso), um ano depois de me graduar em Filosofia, e que só retornei às bancas em agosto de 2010, com "A Religião sob o Martelo Filosófico" (Conhecimento Prático - Filosofia Nº27), devo acrescentar que também realizei a façanha de, por duas vezes, ser a matéria de capa dessa mesma revista, com "A vida é bela em Schopenhauer" (2010) e "Immanuel Kant, um divisor de águas" (2012).


Enfim, o trabalho continua, tenho cada vez mais me dedicado a escrever de maneira ousada, sempre buscando um olhar diferente sobre as questões levantadas, dando de mim o meu melhor, disso não tenho dúvida. Espero sempre contar com o apoio das editoras parceiras e levar mais longe o meu pensamento filosófico.

PALESTRA NA FAMA/PITÁGORAS

ENCONTRO COM OS UNIVERSITÁRIOS


No dia 23/05, estive na Faculdade FAMA/Pitágoras, ministrando a palestra "Direitos adquiridos, deveres cumpridos", como parte da programação da Semana Transdisciplinar. Na ocasião, falei do "direito" e do "dever" como valores indissociáveis e complementares. Minha abordagem focou a questão de que todas as pessoas têm interesse no tema (tanto que tive uma excelente audiência), no entanto, em contrapartida, muitas também são as pessoas que não respeitam os direitos de certos grupos ou classes de cidadãos.


A pauta da Semana Transdisciplinar direcionava para "o direito à acessibilidade", portanto, também enfoquei essa questão, falando do desrespeito de alguns motoristas que insistem em ocupar as vagas reservas aos deficientes ou pessoas de mobilidade reduzida; além da obstrução das rampas de acesso aos prédios e vias e a ocupação, por parte dos não deficientes nem idosos, dos lugares preferenciais nos coletivos.


O ponto principal, que destaco na minha palestra, foi o debate que promovi com os universitários, a partir de indagações como "Que tipo de cidadãos somos?", "Que sociedade queremos?" e "Por que parece ser tão difícil respeitar o direito dos outros?".


Essa foi a segunda palestra que ministrei na Instituição (a primeira foi em setembro/2012), "A Transvaloração da Educação") e fico muito feliz em participar desses eventos universitários, uma vez que são oportunidades de levar o meu ponto de vista filosófico sobre questões que dizem respeito não só ao âmbito universitário, mas também a toda a sociedade.

Aproveitei a oportunidade para aplicar a pesquisa desenvolvida pelo MOFICUSHINTH sobre assuntos como cultura, educação, religião e mercado de trabalho, uma vez que nosso Movimento Filosófico se pretende um instrumento ou mecanismo de mobilização daqueles que têm, como nós, o interesse de promover o melhoramento na qualidade dos cidadãos da nossa sociedade.



Outras palestras serão ministradas ao longo deste ano, e qualquer pessoa ou instituição pode entrar em contato comigo (terapiadaeducacao@hotmail.com) ou com o MOFICUSHINTH (moficushinth@yahoo.com.br), para contratar minhas palestras, sobre o tema que desejar.


quinta-feira, 21 de março de 2013

POEMAS QUE NIETZSCHE JAMAIS ESCREVEU (I)

OS QUE SABEM...*


Os que sabem por que nasceram
Não aceitam que digam por que estão neste mundo;
Os que sabem por que vivem
Não toleram que lhes digam como devem viver.

Os que sabem o que dizem
Não esperam que lhes ponham palavras na boca;
Os que sabem por que gritam
Não pedem que lhes façam silêncio.

Os que sabem donde vieram
Não perguntam pelo caminho de casa;
Os que sabem o que encontrar
Não procuram pelo que perderam.

Os que sabem a hora de partir
Não carregam relógios com ponteiros;
Os que chegam na hora marcada
Não se perturbam com o tempo perdido.

Os que sabem o que fazem
Não querem que lhes digam o que fazer;
Os que sabem suas próprias tarefas
Não tentam cumprir as obrigações de outrem.

Os que sabem ver o sol do meio-dia
Não se incomodam com a cegueira dos tolos;
Os que sabem da escuridão da meia-noite
Não precisam de luzes no fim do túnel.

Os que sabem contar estrelas cadentes
Não perdem seu tempo olhando vagalumes;
Os que sabem sonhar acordado
Não esperam que o sono lhes roube os sentidos.

Os que sabem escrever profecias
Não se ocupam em fazer previsões do tempo;
Os que sabem medir quadrantes celestes
Não carregam consigo régua ou compasso.

Os que sabem onde habita o Deus dos corações
Não se deslumbram ao ver os tronos dos reis;
Os que sabem como surgem e desaparecem impérios
Não se admiram com templos feitos de pedras.

Os que sabem voar imensidões sem fim
Não sentem vertigem à beira de penhascos.
Os que sabem criar ouro e marfim
Não desdenham dos que trazem coroas de espinhos.

Os que sabem onde fica o Esconderijo do Altíssimo
Não repreende os que se escondem em escuras cavernas;
Os que sabem dos obstáculos e grilhões do mundo
Não se perdem em labirintos feitos de vidro.

Os que sabem por onde a água acha seu caminho
Não pedem ao solo que desfaça suas frestas.
Os que sabem que o fogo é mais que um brilho
Não acendem fogueiras em meio a florestas.

Os que sabem caminhar sobre o mar bravio
Não precisam de barcos para sua travessia;
Os que sabem ouvir as palavras das conchas
Não esperam que o vento lhes sussurre ao ouvido.

Os que sabem andar sobre areias escaldantes
Não se importam com o sol de um deserto infindo;
Os que sabem acalmar tempestades gigantes
Não imploram que a brisa já esteja vindo.

Os que sabem ler as palavras malditas
Não escrevem em tábuas de doze iletrados;
Os que sabem correr por terras infinitas
Não deixam de ter o Universo em seus passos.

Os que sabem compreender a Vida
Não temem as aflições da Morte,
Pois mesmo os eternos não são imortais.

*Parte integrante do livro "Poemas que Nietzsche jamais escreveu - Filosofia Poética"
*Proibida a reprodução total ou parcial deste poema, sem a devida autorização por parte do seu autor.

POEMAS QUE NIETZSCHE JAMAIS ESCREVEU (II)

QUEM NÃO PODE MAIS VOAR*


Quem não pode mais voar
Aprende a fazer seu caminho,
Sozinho;
Quem não pode mais voar
Contorna o leito desse rio,
Tranquilo.

Quem não pode mais voar
Acende seu olhar, no escuro,
No tempo;
Aprendendo a caminhar
Mais leve do que o pensamento.

Eu, que caminhei,
Rolei as pedras
Que encontrei pelo caminho;
Chutei as latas, as garrafas,
Os espinhos;
Parei para descansar
Na sombra que encontrei.

Eu, que caminhei,
Virei esquinas,
Não temi encruzilhadas.
Ó minha mãe,
Teu santo nome, minha espada.
À luz do sol,
À meia-luz, eu caminhei...

Quem não pode mais voar
Aprende a calejar o chão
Com os sapatos;
Quem não pode mais voar
Não sonha com lugares altos
Descalço.

Quem não pode mais voar
Aprende a caminhar com pernas
Ligeiras;
E, aprendendo a caminhar,
Descansa dessa vida
Inteira.

Eu, que já voei,
Por céus e terras nunca antes
Voejados;
Por sobre mares nunca antes
Navegados.
No horizonte, o teu olhar
Me possa ver...

Eu que já voei
Nos pontos cardeais gritei
Aos sete ventos;
Ouvi um deus gemer
De tanto sofrimento.
À luz do sol,
À meia luz, também voei...

* Parte integrante do livro "Poemas que Nietzsche jamais escreveu - Filosofia Poética".
* Proibida a reprodução total ou parcial deste poemas, sem a devida autorização do seu autor (direitos reservados Copyright)

quarta-feira, 13 de março de 2013

CIÊNCIA, FILOSOFIA, RELIGIÃO E AUTO-CONHECIMENTO (Parte I)



As fronteiras do conhecimento estão cada vez mais se estreitando e fazendo, de certa forma, com que a Ciência e a Religião tendam para um mesmo ponto, embora ainda haja resistências por parte de alguns cientistas mais tradicionais e religiosos mais radicais. No entanto, essa espécie de obstáculo ao novo tem seu lado bom, pois evita um “boom” de euforia que, muito provavelmente, prejudicaria a boa avaliação dessas tendências e seus resultados. Podemos destacar alguns expoentes disso tudo, na Filosofia, com Arthur Schopenhauer(1), que foi beber nas fontes budista e hinduísta para escrever sua obra-prima “O Mundo como Vontade e Representação”; na Física, com Fritjof Capra(2) e o seu “O Tao da Física”; na Mecânica Quântica, com William Arntz(3), Betsy Chasse(4) e Mark Vicente(5) e seu ousado filme (que virou o livro) “Quem somos nós?”; na Medicina, o doutor Deepak Chopra(6) e seus inúmeros livros, que mostram sua prática médica recheada de elementos da Medicina Ayurvédica; na Religião, com Allan Kardec(7) (Espiritismo) e Swami Rama(8) (Hinduísmo), além do professor de auto-sugestão mental, Arthur Riedel(9), entre outros.

A leitura que tenho feito, ultimamente, nesse sentido, isto é, os artigos e obras aos quais tenho me dedicado, despertou em mim o desejo de escrever aqui uma série de textos, nos quais procurarei mostrar aos meus leitores como a Ciência vem (e não é de hoje) demonstrando maior interesse pelos textos antigos, de tradições orientais, por ter feito descobertas no campo da Física, por exemplo, que vão ao encontro do que há muito fora expresso naqueles compêndios ditos religiosos.

Abaixo, transcrevo um artigo muito interessante, que abre esta nova seção neste blog. Boa leitura a todos!

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O QUE, AFINAL, É A REALIDADE?*

O grande esforço do homem tem sido, no curso da história, o de procurar compreender a realidade, revelar o real. Como a realidade pode ser conhecida. Aristóteles e, muito mais tarde, Locke, proclamara que todo conhecimento era proveniente dos sentidos; os sentidos e os aparelhos que os ampliam seriam os instrumentos do conhecimento. Essa visão do senso comum vem sendo contrariada desde o início do século pela Física, que nos tem mostrado, de modo contínuo, uma realidade bem distinta: aos poucos, os denominados corpos simples foram reduzidos a partículas idênticas; estas foram sendo reduzidas a outras ainda mais elementares, enquanto, por suas vez, as mais diferentes radiações foram sendo reconhecidas como expressões de ondas, distintas apenas no comprimento e em sua freqüência. Mais ainda, energia e matéria foram unidas pela teoria da relatividade restrita, enquanto o espaço e o tempo vieram a formar um continuum na visão da teoria da relatividade geral. Matéria e energia, espaço e tempo, e gravitação tornaram-se apenas deformidades do continuum. A própria matéria do mundo, no dizer de Arthur Eddinton(10), não seria senão matéria da mente. Todos os processos físicos, as mudanças existentes no universo, resultam da intermediação de quatro forças elementares – a força nuclear forte, a força nuclear fraca, a força eletromagnética e a força gravitacional.

Isso tudo nos permite reconhecer que aquilo que vemos e julgamos ser a realidade não é senão uma aparência, sem dúvida dependente da mente do observador e da estrutura física dos sentidos a aparelhos com que observa o mundo. De qualquer modo, são estas as únicas “realidades” ou conexões de acontecimentos capazes de serem percebidos? Peat(11) e Bohm(12), em Ciência, Ordem e Criatividade (1987), destacam que toda a percepção sensória depende da disposição total da mente e do corpo, disposição esta que depende da cultura geral e da estrutura social, fatores que também condicionam a percepção através da mente.

De que modo foi possível conceber este universo? Possui ele alguma realidade ou é a realidade? As religiões que se apossaram da revelação passaram a expressá-la através de mitos e dogmas, porém são apenas formas de expressão. No fundo, percebemos que uns e outros procedem de experiências pessoais diretas que foram cristalizadas pelo sacerdócio na forma de princípios, tornando-se artigos de fé. Este universo realmente existe? E, se existe, é possível redescobri-lo. Se se pretende experimentar, é necessário conhecer que instrumento deve ser utilizado para a investigação.


(1)Arthur Schopenhauer (Danzig, 22 de fevereiro de 1788 — Frankfurt, 21 de setembro de 1860) - filósofo alemão do século XIX;
(2)Fritjof Capra - físico teórico e escritor que desenvolve trabalho na promoção da educação ecológica;
(3)William Arntz - diretor e produtor de cinema americano;
(4)Betsy Chasse - cineasta internacionalmente conhecida, autora e palestrante;
(5)Mark Vincente - palestrante, autor, e diretor premiado;
(6)Deepak Chopra - médico indiano radicado nos Estados Unidos, formado em medicina pela Universidade de Nova Deli. É também escritor e professor de Ayurveda, espiritualidade e medicina corpo–mente;
(7)Allan Kardec - pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail (Lyon, 3 de outubro de 1804 — Paris, 31 de março de 1869), educador, escritor e tradutor francês, notabilizou-se como o codificador do espiritismo (neologismo por ele criado), também denominado de Doutrina Espírita;
(8)Swami Rama - (1925-1996) era um índio yogi, conhecido por ser um dos primeiros iogues a permitir que cientistas ocidentais, da Clínica Menninger, ainda na década de 1960, estudassem a sua capacidade de controlar voluntariamente os processos corporais (tais como batimentos cardíacos, pressão arterial e temperatura corporal), que normalmente são considerados não-voluntários;
(9)Arthur Riedel - professor de otimismo, autor do livro “Hei de Vencer”, uma filosofia de vida prática, baseada na auto-ajuda mental e no desenvolvimento da vontade;
(10)Arthur Eddinton (Kendal, 28 de dezembro de 1882 — Cambridge, 22 de novembro de 1944) - astrofísico britânico do início do século XX;
(11)F. David Peat - físico holístico, realizou pesquisa em física do estado sólido e participou da fundação da teoria quântica;
(12)David Bohm (1917-1992) – físico que influenciou significativamente a cultura do nosso século.

*Adaptado de “Mediunidade e Autoconhecimento”, revista Luz do Espiritismo (autor não mencionado)