quinta-feira, 15 de março de 2012

ENTREVISTA À SEXTO SENTIDO (Na íntegra)

ESTAMOS SÓS NO UNIVERSO?

SS- Considerando que somente na Via Láctea podem existir cerca de 2 bilhões de planetas parecidos com a Terra, qual a possibilidade de estarmos sós no universo?

JHD- Isso depende muito de qual tipo de vida, ou de seres, pensamos encontrar. Estamos presos à ideia de que a vida só é possível onde há água e elementos como hidrogênio, oxigênio e gás carbônico. Além disso, só conseguimos imaginar seres antropomórficos. Creio que, para considerarmos seriamente tal possibilidade, é preciso avançar mais um pouco, pois se “há muitas moradas” dentro do que denominamos “a criação de Deus”, é possível que haja também moradores – seres com características bastante peculiares, para os quais não possuímos nem sentidos, nem instrumentos, capazes de detectar. Pelo menos, ainda não. Se queremos realmente chegar a esse conhecimento, precisamos estar abertos a novas possibilidades e não fechados na convicção que “tem de ser assim”.

SS- Mesmo considerando todas as provas que ciência já demonstrou, de que há possibilidade de existir vida em outros mundos, é possível crer que essa vida possa ser inteligente e ser semelhante a nós?

JHD- Bem, se a pergunta é “é possível crer?”, responderei que “sim”. Não queremos apenas que exista um Deus racional e inteligente como supomos, queremos também que esse Deus tenha espalhado essa racionalidade e inteligência por todo o Universo. Isso justificaria nossos devaneios sobre invasões alienígenas, destruição da humanidade por uma raça superior vinda do espaço e coisas desse tipo. Também acalentaria nosso sonho de enviar ou deixar mensagens para os habitantes das estrelas, de forma a comunicar nossas experiências e falar sobre quem somos ou quem fomos. Essa temerosa crença, ao mesmo tempo em que nos põe em alerta para o perigo que é ter vizinhos que pensam tão ambiciosamente quanto pensamos, também nos põe em comunhão com todo o Universo, acolhendo como irmãos esses possíveis seres de outros planetas. Toda crença fala sempre mais de uma necessidade do que de um desejo. Temos necessidade de que “assim seja”, e não doutra forma.

SS- Durante anos, cientistas e teólogos tem defendido que a vida é uma exclusividade da Terra. Isso hoje já está em dúvida, contudo, ainda existem muitos partidários dessa tese, visto que até o momento só existem possibilidades, mas não provas científicas. Mas pensar dessa forma - a vida é somente terrestre - não soa egoísta?

JHD- Em meu livro “O Governante das Estrelas – Da Materialidade do Eterno” (ainda não publicado), dedico o capítulo “A Reencarnação e os Mundos Possíveis” a esta questão. É de lá que trago essas comparações que faço entre a crença em extraterrestres e a crença religiosa. Enquanto a crença inventa, digamos assim, condições de possibilidade para o inusitado, a ciência cria empecilhos para o improvável. Portanto, esse suposto egoísmo é cientificamente justificável. A ciência quer saber se há vida fora da Terra e, uma vez que ela quer saber, é necessário que, de certa forma, também creia que haja, no entanto, a racionalidade imposta à pesquisa científica não permite que essa crença seja mais do que uma mera propulsora da busca pelo desconhecido. Assim, até prova em contrário, dirá a ciência: “só há vida neste pequeno recanto do Universo”. Não obstante, quando olhamos para aqueles pequenos pontos luminosos na imensa escuridão do céu, alguma coisa nos convoca a imaginar se não estaríamos também nós sendo observados de lá. Penso que a vida é teimosa demais para ter se fixado num único ponto da vastidão do Universo.

SS- A visão mais comum de vida fora da Terra foca nos contatos com seres alienígenas, alimentado pelas fantasias da ficção científica. Seria esta uma visão correta de vida fora da Terra?

JHD- A ficção científica está para a verdade assim como o mito está para a racionalidade: é útil até certo ponto e, a partir dali, deve ser abandonada. Sabemos que livros e filmes de ficção científica inspiraram muitos artefatos usados na exploração espacial e, de certa forma, propiciaram avanços científicos, pois imaginação e curiosidade são fundamentais para o espírito científico, mas para por aí sua utilidade. Exigir que seres extraterrestres se pareçam com anfíbios ou sejam uma espécie de homens lindos e reluzentes, a meu ver, é um absurdo! Precisamos ser mais sérios e menos fantasiosos, se quisermos avançar nessas pesquisas. Não há necessidade de pressa em inventar corpos e rostos não-humanos que tenham como modelo as formas humanas reconhecidas. Sabemos que os seres da Terra desenvolveram esta ou aquela característica por necessidade e adequação às condições particulares de seu habitat natural. Penso que, se aplicarmos esse mesmo critério para os possíveis seres de outros planetas, teremos mais chance de conhecer a verdade dos fatos.

SS- Se existirem seres evoluídos em outros mundos, e se eles criaram uma civilização igual a nossa - nem entraremos na questão de “mais avançada” - como as religiões podem explicar as questões da evolução e da “salvação” dos terrestres e dos extraterrestres?

JHD- O que essa questão tem de interessante, tem de polêmica também. No tocante à evolução, não vejo empecilhos em aceitarmos que tudo está em constante movimento de melhoramento, ou de adaptação, como diria Darwin. Evoluir é próprio de tudo que houver no Universo – se há seres em outros planetas, fico bastante à vontade para dizer que devem passar por processos evolutivos semelhantes ao nosso. Por outro lado, nas questões que dizem respeito às religiões, como a salvação, por exemplo, não encontraremos muito apoio para argumentações. Toda religião é retrógrada e obtusa; está presa à letra morta de suas Escrituras e fechada em suas doutrinas, não dando lugar para o avanço do conhecimento. A ideia de salvação há muito já deveria ser um absurdo para nós terráqueos, que dizer então para extraterrestres? A ciência precisa de critérios, não de censuras, ainda mais de doutrinas religiosas que, se pudessem, manteriam toda a humanidade na Idade da Pedra. A questão da “salvação” é em si mesma o maior dos absurdos já produzidos pela incapacidade do homem de admitir seus próprios erros, não como pecados, mas como próprios da sua natureza de conhecedor e explorador das possibilidades da vida. Que um homem magnânimo e extemporâneo como Jesus Cristo é um exemplo de sabedoria, autoconfiança e determinação não tenho como negar. Daí a construir uma doutrina religiosa que torne o homem opróbrio de si mesmo, e deixar que ela predomine durante mais de vinte séculos, transforma o que tinha tudo para ser um néctar no mais letal veneno.

SS- É muito comum, entre vários grupos, a ideia de que discos voadores vem à Terra fazer contato e investigar os seres humanos, é plausível? Porque até hoje nenhum desses seres apareceu em praça pública acabando com todas as dúvidas quanto a sua existência?

JHD- Em primeiro lugar: que necessidade eles teriam de sanar nossas dúvidas? Remetendo à religião, isso é o mesmo que pedir ao Cristo que ele prove que é o “Filho de Deus”. Particularmente, não sei se Jesus é ou não “O Filho de Deus”, não sou um religioso, sou um filósofo, mas creio nele quando diz que, se ele provasse que realmente é, então “o Reino de Deus estaria aqui”. Similarmente, considerando a possibilidade de que existam extraterrestres que nos visitam, se eles tirassem nossas dúvidas quanto à sua existência, consequentemente nos dominariam, pois seriam realmente superiores a nós, uma vez que conseguiram fazer várias visitas ao nosso planeta, passaram anos estudando nossos hábitos, nossas forças, nossa inteligência – coisa que nós não fomos capazes de fazer com eles – e, sendo superiores, nos subjugariam. Ou seja: a revelação de uma verdade só é possível onde e quando há condições de compreensão e instauração dessa verdade. Em outras palavras: se eles realmente existem e nos visitam há anos, e não se apresentaram ainda, de forma indubitável, a nós, ou ainda não estão prontos para nós, ou nós não estamos prontos para eles, ou as duas coisas. A própria ufologia, hoje, primeiro tenta negar que certas “luzinhas no céu”, certos fenômenos malexplicados, sejam OVNIS ou obras de extraterrestres, para só depois incluí-los entre seus anais. Apesar de que, para alguns, a ufologia seja quase uma religião, a maioria dos ufologistas supostamente sérios são bastante céticos em muitos casos. As dúvidas são importantes para a busca de conhecimento e devem persistir ainda por um bom tempo, creia-me.

SS- Da mesma forma que os humanos, podemos imaginar, que se houver vida em outros mundos e essa vida for inteligente, você acha possível eles estabelecerem contato com nós humanos, da mesma forma que os humanos estão fazendo na atualidade?

JHD- A comunicação, como sabemos, pressupõe sempre dois lados: o comunicador, ou orador, e o interlocutor, ou ouvinte, os quais alternam seus papéis. Permita-me comparar novamente essa questão de vida extraterrestre com a questão religiosa. As pessoas religiosas acreditam que se comunicam com Deus, ou seja, que elas são capazes de falar com Ele e que Ele transmite suas ordens, de maneira inteligível (apesar de misteriosa), direta ou indiretamente a elas. Pois bem! Essas pessoas religiosas acreditam que sabem exatamente o que Deus quer de nós (mas absurdamente, no caso dos cristãos, por exemplo, não são capazes de explicar porque um Ser com tamanha sapiência e poder deixou o mundo chegar a um ponto tal de depravação e insubordinação que precisou mandar em sacrifício seu próprio Filho, como única correção de tamanho problema). Ora, voltando à sua pergunta, havendo seres extraterrestres, com inteligência e capacidade suficiente para viajar tão longe, em veículos sofisticadíssimos, não seria demais considerar que também sejam capazes de saber ou aprender a se comunicar conosco de forma inteligível, não é mesmo? Já é mais que hora de deixarmos de brincar de “eram os deuses astronautas?”.

SS- A pergunta que sempre se pensa em termos de vida extraterrestre é se seremos capazes de percebê-la, pois afinal: O que é vida?

JHD- A resposta a essa questão está imbricada naquela que dei para a pergunta inicial. Mas, concluindo, gostaria que me permitisse encerrar minhas respostas da mesma forma que me conduzi até aqui, ou seja, fazendo comparações com as questões religiosas. Creio que, se um dia fizermos contato real e inegável com seres de outros planetas, será um fato tal qual o profetizado pelo Cristo sobre seu retorno: não precisaremos nos deslocar de um ponto a outro para testemunhar tão inusitado evento, pois ele será visível e compreensível para todos em toda parte deste planeta. Porém, prefiro considerar que esses possíveis seres de outros planetas talvez levem uma vida tão bem resolvida e agradável que não tenham razões para se preocupar com a vida alheia; talvez sua sabedoria os aconselhe a cuidar da própria vida, em vez de ficarem inventando deuses e alienígenas, que só servem para tirar a paz daqueles que só queriam admirar as estrelas. Muito obrigado pela oportunidade!