segunda-feira, 4 de julho de 2011

A MORTE DE DEUS - UM EVANGELHO PARA ESPÍRITOS LIVRES

MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DE CURSO

A partir de hoje, começo a publicar em capítulos aqui no blog minha monografia de conclusão de curso. Espero que ela possa ajudar os estudantes, principalmente os do Curso de Filosofia, a elaborar suas próprias monografias, espelhando-se na coerência com que foi planejada e escrita, além de incentivá-los a não se limitarem a temas simples e banais, somente para conseguirem sua aprovação; que eles sejam ousados (já que se pretendem filósofos) e que busquem temas polêmicos, instigantes e provocativos, embasados em pensadores que inscreveram seus nomes na História da Filosofia e continuam sendo marcos para outras perspectivas dentro de toda e qualquer sociedade.

Esta monografia, que ora lhes apresento, recebeu nota 9,0 (nove) da Banca Examinadora, em agosto de 2005, e representa para mim um orgulho, uma vez que a escrevi sozinho, sem nenhuma orientação, pois o professor que consta nos registros da Universidade (vide original desta monografia em seus arquivos) como sendo meu orientador, não cumpriu com a sua função, uma vez que: 1)NÃO ACOMPANHOU A ELABORAÇÃO DESTA MONOGRAFIA, 2) NÃO INDICOU LEITURAS, 3) NÃO FEZ RESSALVAS, COMENTÁRIOS OU ADENDOS, e, pior de tudo, 4)ABRIU OS TRABALHOS DE DEFESA DA MESMA DECLARANDO QUE ERA "CONTRÁRIO AO TEMA ESCOLHIDO".

Por essas e outras razões é que orgulho-me de ter sido aprovado, com nota expressiva, e de nunca me ter desviado do meu propósito e do meu tema, sendo fiel à boa Filosofia e ao compromisso em contribuir com minha formação para a libertação da sociedade de suas amarras culturais e religiosas, muito embora essas amarras sejam tidas como fundamentos para uma sociedade ética e justa, mas que, com o cristianismo ou mesmo sem ele, nunca foi nem seria a sociedade que homens instruídos como nós, os filósofos de todos os tempos, desejamos ou gostaríamos de fazer parte, uma vez que a Ética não pode ser construída sob a égide de desmandos religiosos e a Justiça não se estabelece sob conchavos do poder, mas tão-somente com a legitimidade da Razão, se e somente se esta também for direito e chancela da Sociedade como um todo.

Enfim, que esta monografia sirva de horizonte e mar aberto aos novíssimos filósofos, aos vindouros "espíritos livres".

MONOGRAFIA: A MORTE DE DEUS - UM EVANGELHO PARA ESPÍRITOS LIVRES

Dedico o presente trabalho a todos os “espíritos livres” que não conduzem, nem conduziram, suas vidas por preconceitos morais ou religiosos, de qualquer espécie, nem se prenderam a superstições infantis, ainda que sustentadas secularmente, e aos “extemporâneos”, em qualquer momento de sua passagem sobre esta Terra.


AGRADECIMENTOS


Ao Ser Supremo, criador de todas as coisas e bem-querente de todos os povos, de todas as raças, de todos os credos e de todas as culturas.

Aos meus filhos, luzeiros de minhas noites insones; às minhas irmãs, suporte desta empreitada; e aos “verdadeiros” amigos.

E, meus mais sinceros agradecimentos, a Denize Corrêa Mota, ex-companheira, que antes de todos incentivou e vislumbrou a realização deste momento.


RESUMO

Aqueles que podem vislumbrar uma novíssima humanidade, na qual a natureza e a vida sejam o sentido e o significado mais excelsos que se pode dar a todos os tipos de valor, e cujos conceitos morais tendem para fazer com que os homens compreendam-se como indivíduos singulares, espíritos livres, deuses entre deuses – porque são capazes de criar mundos interiores e potencialmente tornar este aqui um mundo melhor, não em favor ou pelo mando e ordem de qualquer ser metafísico transformado em Juiz Supremo (um olho que tudo vê), mas só e principalmente porque seu destino e vontade assim querem que seja; aqueles de fato compreenderão o real significado de “Deus está morto!”
Este trabalho pretende apresentar uma abordagem na qual perceba-se o quanto o cristianismo envolveu toda a Europa e Ocidente numa nuvem de obstáculos e de males, partindo da perspectiva filosófica de Friedrich Wilhelm Nietzsche, que se conduz estritamente de forma histórico-psicológica, analisando os postulados cristãos, a moral cristã, a noção do Deus único, contrapondo-se a tudo o que é natural e, conseqüentemente, opondo-se ao próprio homem.
Abordam-se, conjuntamente, os enunciados principais da filosofia nietzscheana, como: a moral de rebanho, a transvaloração de todos os valores, os espíritos livres e o advento do super-homem. A base deste trabalho são os postulados filosóficos de Friedrich Wilhelm Nietzsche. Nossa meta é alcançar “aquele novo horizonte”.

Palavras-chave: Deus – Moralidade - Espíritos livres – Cristianismo – Rebanho - Valores.
SUMMARY

Those who can foresee a brand-new mankind in which nature and life are ultimate sense and meaning that one can give to all kind of values, and whose moral concepts tend to make men comprehend themselves as singular individuals, free spirits, gods among gods – because they are able to create inner worlds, and potentially make this one a better world, not in favor or by the command and order of any metaphysical being turned into a Supreme Judge (an All-Sight-Eye), but only and mostly because their destiny and will wish to be this way – those ones will indeed understand the real significance of “God is dead!”
This work intends to present an approach on how the Christianism spread a shadow of obstacles and harm all over Europe and the Western World, according to the philosophical sight of Friedrich Wilhelm Nietzsche, whose parttern is a historical and psychologic point of view, showing that the Christian concepts, its morality and its notion of an Almighty God are against nature and man himself.
The basis for this work is fundamentally the thought of a free thinker – Friedrich Wilhelm Nietzsche – his plenty philosophy. Our aim is “that new horizon”.

Key-words: God . Morality . Free Spirits . Christianism . Herd . Values.



1 INTRODUÇÃO

A Filosofia, desde sua origem, aproximadamente 26 séculos atrás, na antiga Grécia, legou à humanidade as maiores inteligências, os maiores homens que pensaram e traçaram os rumos da História. Cosmólogos, geômetras, matemáticos, astrônomos, chefes de estado, intelectuais, doutores e professores, para ilustrar alguns, utilizaram-se e utilizam-se da Filosofia para estabelecer leis, elaborar estratégias, governar povos, divulgar suas idéias e transferir conhecimentos. Não há no conhecimento ou na atividade humana área na qual a Filosofia não seja aplicável, por necessidade ou por utilidade. De Tales de Mileto aos atuais filósofos produzidos em todo o ocidente o fio condutor comum é o profundo interesse pelo “homem”. Queremos saber “o que é o universo?”, “quem ou o que o criou?”, “qual é a nossa função e importância no mundo?” e, principalmente, “o que é isto – o homem?”
O que até aqui se sabe é que é o homem que, com sua razão, com sua observação e interpretação, dá sentido ao mundo. Esse sentido está contido no método utilizado por ele, a linguagem lógica – ou seja, esse sentido é um código comum à raça humana. Ora, perguntamos, e se esse sentido só fizer sentido para nós, seres humanos? E se a nossa interpretação do mundo só for válida dentro dessa linguagem lógica, isto é, se ela for apenas uma das perspectivas possíveis? E se... Bem, vejamos o que diria o filósofo que mais provocou esses questionamentos:
“Quando alguém esconde uma coisa atrás de um arbusto, vai procurá-la ali mesmo e a encontra, não há muito o que gabar nesse procurar e encontrar: e é assim que se passa com o procurar e encontrar da “verdade” no interior do distrito da razão. Se forjo a definição de animal mamífero e em seguida declaro, depois de inspecionar um camelo: “Vejam, um animal mamífero”, com isso decerto uma verdade é trazida à luz, mas ela é de valor limitado, quero dizer, é cabalmente antropomórfica e não contém um único ponto que seja “verdadeiro em si”, efetivo e universalmente válido, sem levar em conta o homem. O pesquisador dessas verdades procura, no fundo, apenas a metamorfose do mundo em homem, luta por um entendimento do mundo como uma coisa à semelhança do homem e conquista, no melhor dos casos, o sentimento de uma assimilação. Semelhante ao astrólogo que observava as estrelas a serviço do homem e em função de sua sorte e sofrimento, assim um tal pesquisador observa o mundo inteiro como ligado ao homem, como a imagem multiplicada de uma imagem primordial do homem. Seu procedimento consiste em tomar o homem por medida de todas as coisas: no que, porém parte do erro de acreditar que tem essas coisas imediatamente, como objetos puros diante de si. Esquece, pois, as metáforas, intuitivas de origem, como metáforas, e as toma como as coisas mesmas”.
NIETZSCHE (1991, p. 36)

Abaladas estão todas as nossas convicções, senhores! Melhor retroagirmos ao patrono da filosofia, Sócrates, e fazer coro com ele: “Só sei que nada sei!”. Talvez seja válido dizer aqui que o homem sabe muito do que “quer” saber e pouco do que “deve” saber. Porque ele transforma o sentido do mundo em verdade, ele categoriza as coisas, os seres e os eventos, ele sintetiza idéias e formula leis dentro da linguagem e do método que só diz respeito a ele próprio. Ele é senhor do universo somente no domínio da “Razão”, ele é agente fazedor da história e da cultura, mas está sujeito às intempéries da “vida”. A certeza é uma estaca que fincamos, para nos segurar, em um chão que não estava ali. Blaise Pascal (1623 – 1662) propõe a seguinte situação: “Se um trabalhador manual tivesse certeza de sonhar cada noite, doze horas a fio, que é rei, acredito que seria tão feliz quanto um rei que todas as noites durante doze horas sonhasse que é um trabalhador manual”. Moral da estória: se o sonho for a realidade, a realidade não será uma espécie de sonho?
Voltando aos gregos, chegamos a Platão e seu mundo das idéias – aqui, tudo não passa de aparências, lá, tudo é real. Que lugar é esse “lá”, que o intelecto do filósofo grego captou e considerou de sua obrigação comunicar aos seus contemporâneos? Por que, desde então devemos concluir que o tangível é apenas o fenômeno, o que se mostra, de uma essência real intangível? Sejam quais forem as respostas, o fato é que esse pensamento platônico fundou uma Escola filosófica, avançou no tempo, apoderou-se de outras mentes e finalmente foi tragado pelo Cristianismo para fundamentar sua filosofia e sua moral posteriormente.
É desse pormenor exatamente que este trabalho se ocupa. O senhor Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 -1900) extenuará sua obra integralmente em tentar demonstrar o quanto a religião ocidental, a fé cristã, se apoderou desse pensamento platônico, para cometer os maiores delitos contra o homem, a natureza e a vida na Terra. Fundamentando-se numa metafísica religiosa, ou seja, em mundos, seres, conceitos e idéias que não são encontrados neste mundo, inventou um Deus-juiz, um pecado original, um sacrifício divino, uma remissão das faltas, um castigo eterno, um reino dos céus e um inferno. Segundo Nietzsche, como pretendemos deixar claro aqui, foi alquebrando nossa força, tirando nossa “vontade de potência”, negando a vida na Terra, deturpando a inocência da natureza e prometendo extra-mundos que o cristianismo disseminou por toda a Europa e todo Ocidente sua cultura, sua ética, as quais só serviriam ao homem de condenação e entrave. Inventou um livre arbítrio para um falso sentido de liberdade para eximir seu Deus da culpa de todos os erros encontrados no mundo. A partir desse postulado – o livre arbítrio – tudo que o homem realiza corretamente é fruto de sua retidão para com Deus ou da graça incondicional deste; e tudo o que o homem comete de erro é de sua própria e máxima culpa, por ter se afastado dos mandamentos desse mesmo Deus.
Nietzsche combaterá essa forma injusta e desumana de julgar a humanidade e procurará deixar evidente como o intelecto, raciocinando a partir de um erro - qual seja, o de que no metafísico se encontra a verdade e de que o fenômeno é distorção, erro ou ilusão – deu vazão a uma cultura contra o próprio homem e uma moralidade que fere a natureza e a vida.

O presente trabalho procurará levantar os principais postulados da filosofia nietzscheana - a saber: a morte do Deus cristão, a moral de rebanho, o advento do super-homem, a humanidade como nação dos espíritos livres e os conceitos de bem e mal sob as perspectivas de novíssimos valores. As obras do filósofo alemão que aqui serão trabalhadas para a nossa documentação serão: “A Gaia Ciência”, “Assim Falou Zaratustra”, “Para Além do Bem e do Mal”, O Anticristo” e “Vontade de Potência”. Faremos referências a outros filósofos como Schopenhauer e Kant, e comentadores da obra de Nietzsche. Temos por objetivo elucidar um pensamento autêntico, que, devido à polêmica que causou e ainda causa, foi relegado em sua época e, mesmo hoje, é alvo do preconceito e da incompreensão por parte de muitos que inocentemente, é preciso dizer, se deixaram apanhar pelas teias dessa aranha chamada moral cristã.
Seremos nós, autores deste trabalho, também alvo de “olhares” não muito amistosos – já o sentimos. Mas, lembrando as palavras daquele que justifica essa nova verdade revelada, ousamos dizer: “Peço-vos perdão, meus amigos: tive a audácia de rabiscar minha felicidade na parede”. Nietzsche, in A Gaia Ciência.

*** Esta publicação será continuado em breve, aguarde!

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