sábado, 9 de abril de 2011

FILOSOFIA & POESIA

POEMA DO FILÓSOFO VOLTAIRE



Sou ínfima parte do grande todo.
Sim; mas todos os animais condenados a viver,
Todas as coisas sensíveis, nascidos segundo a mesma lei implacável,
Sofrem como eu, e como eu também morrem.
O abutre aperta sua tímida presa,
E golpeia com o sanguinário bico os trêmulos membros:
Para ele, parece, está tudo bem. Mas pouco depois,
Uma águia faz o abutre em pedaços;
A águia é traspassada por setas do homem;
O homem, caído na poeira dos campos de batalha,
Misturando seu sangue com companheiros agonizantes, Torna-se, por sua vez, o alimento de pássaros vorazes.
Assim o mundo todo geme em cada membro,
Todos nascidos para o tormento e para a morte mútua.
E sobre esse horrendo caos, você diria
Que os males de cada um formam o bem de todos!
Que bem-aventurança! E, quando com voz trêmula,
Mortal e lamentavelmente você grita “Tudo bem”,
O universo o desmente, e seu coração
Refuta cem vezes a sua presunção. (...)
Qual é o veredicto da mente mais ampla?
Silêncio: o livro do destino está fechado para nós.
O homem é um estranho para com a sua própria pesquisa;
Não sabe de onde vem, nem para onde vai.
Átomos atormentados num leito de lama,
Devorados pela morte, um escárnio do destino,
Mas átomos pensantes, cujos olhos que enxergam longe,
Guiados por pensamentos, mediram as fracas estrelas.
Nosso ser mistura-se ao infinito;
A nós mesmos, nunca vemos ou chegamos a conhecer.
Este mundo, este palco do orgulho e do erro,
Está cheio de tolos doentes que falam em felicidade.

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