OS QUE SABEM...*
Os que sabem por que nasceram
Não aceitam que digam por que estão neste mundo;
Os que sabem por que vivem
Não toleram que lhes digam como devem viver.
Os que sabem o que dizem
Não esperam que lhes ponham palavras na boca;
Os que sabem por que gritam
Não pedem que lhes façam silêncio.
Os que sabem donde vieram
Não perguntam pelo caminho de casa;
Os que sabem o que encontrar
Não procuram pelo que perderam.
Os que sabem a hora de partir
Não carregam relógios com ponteiros;
Os que chegam na hora marcada
Não se perturbam com o tempo perdido.
Os que sabem o que fazem
Não querem que lhes digam o que fazer;
Os que sabem suas próprias tarefas
Não tentam cumprir as obrigações de outrem.
Os que sabem ver o sol do meio-dia
Não se incomodam com a cegueira dos tolos;
Os que sabem da escuridão da meia-noite
Não precisam de luzes no fim do túnel.
Os que sabem contar estrelas cadentes
Não perdem seu tempo olhando vagalumes;
Os que sabem sonhar acordado
Não esperam que o sono lhes roube os sentidos.
Os que sabem escrever profecias
Não se ocupam em fazer previsões do tempo;
Os que sabem medir quadrantes celestes
Não carregam consigo régua ou compasso.
Os que sabem onde habita o Deus dos corações
Não se deslumbram ao ver os tronos dos reis;
Os que sabem como surgem e desaparecem impérios
Não se admiram com templos feitos de pedras.
Os que sabem voar imensidões sem fim
Não sentem vertigem à beira de penhascos.
Os que sabem criar ouro e marfim
Não desdenham dos que trazem coroas de espinhos.
Os que sabem onde fica o Esconderijo do Altíssimo
Não repreende os que se escondem em escuras cavernas;
Os que sabem dos obstáculos e grilhões do mundo
Não se perdem em labirintos feitos de vidro.
Os que sabem por onde a água acha seu caminho
Não pedem ao solo que desfaça suas frestas.
Os que sabem que o fogo é mais que um brilho
Não acendem fogueiras em meio a florestas.
Os que sabem caminhar sobre o mar bravio
Não precisam de barcos para sua travessia;
Os que sabem ouvir as palavras das conchas
Não esperam que o vento lhes sussurre ao ouvido.
Os que sabem andar sobre areias escaldantes
Não se importam com o sol de um deserto infindo;
Os que sabem acalmar tempestades gigantes
Não imploram que a brisa já esteja vindo.
Os que sabem ler as palavras malditas
Não escrevem em tábuas de doze iletrados;
Os que sabem correr por terras infinitas
Não deixam de ter o Universo em seus passos.
Os que sabem compreender a Vida
Não temem as aflições da Morte,
Pois mesmo os eternos não são imortais.
*Parte integrante do livro "Poemas que Nietzsche jamais escreveu - Filosofia Poética"
*Proibida a reprodução total ou parcial deste poema, sem a devida autorização por parte do seu autor.
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