domingo, 8 de setembro de 2013

CARAS-PINTADAS, MASCARADOS E DESCARADOS



De repente, o “gigante” acordou. E fez muito barulho, pois sua energia veio da força jovem, de adolescentes, jovens e adultos que represaram durante anos sua repulsa, sua indignação e revolta com a corrupção política, o descompromisso dos políticos com seus eleitores e, em primeiro plano, o aumento na tarifa do transporte público. As ruas inflamaram, literalmente, e as praças viraram locais de uma manifestação incontrolável, uma vez que, infiltrados entre os manifestantes “sangue bom”, estavam ali aqueles que só tinham por objetivo causar o caos nas cidades, com atos de vandalismo, que em nada favorecem a legalidade dos movimentos e só ofuscam o brilho e a força das reivindicações,e que, portanto, não podem ser apoiados, de forma alguma, por qualquer de nós que saiba o real valor do direito democrático de se manifestar.

Policiais e políticos tiveram de encarar essa força jovem. Uns, utilizando recursos legais ou truculentos, como bombas de efeito moral e spray de pimenta, indiscriminada e injustificavelmente; os outros, tentando viabilizar projetos que “agradassem” o povo e sugerindo plebiscitos, como respostas desesperadas ao que não conseguiam conter. O certo é que de junho para cá tem havido uma série de conflitos entre manifestantes e policiais, provocando assim novas medidas, como a atual proibição das pessoas se manifestarem com o rosto coberto por máscaras ou por outro qualquer artifício que prejudique a sua identificação, no imediato momento de sua atuação ou, posteriormente, através das imagens captadas por câmeras de rua ou de emissoras de tv.

As autoridades, por todo o país, respaldando-se (dizem) numa interpretação errônea da nossa Constituição (inciso IV do artigo 5º, onde lê-se: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o seu anonimato”), desde então, deliberaram que a polícia teria o poder de exigir a retirada da máscara (ou, como já disse, qualquer outro artefato), sob pena de prender tal manifestante que se recusasse a fazê-lo. A emenda foi pior do que o soneto, evidentemente! A partir daí, os desentendimentos entre manifestantes e policiais se agravaram e a violência nas ruas ganhou ainda maiores proporções, como se pode ver neste 7 de setembro.

Voltando um pouco no passado, gostaria de lembrar aqui dos “caras-pintadas”, que se manifestaram fortemente contra o Governo Collor de Mello e contribuíram para o seu impeachment, em 1992. Naquela ocasião, sair às ruas de rosto pintado foi considerado um ato de patriotismo, hoje, ir para a rua de rosto coberto é considerado “crime” pelos governantes do país. Será que é assim somente porque desta vez a força juvenil, sua indumentária de luta e os motivos são exatamente contra eles? O fato é que os manifestantes não se dobraram a essas deliberações autoritárias do poder político. Muito pelo contrário, fizeram dessa truculência e desse desmando político a força motriz para saírem novamente, e com mais razão, às ruas.

Enfim, nosso grande problema, ao meu ver e a História passada, atual e futura se encarregará de comprovar, não são os jovens caras-pintadas ou mascarados, uma vez que estes nada mais fizeram e estão fazendo do que se manifestar democraticamente contra uma realidade sociopolítica insuportável e insustentável, mas sim “os descarados” – os políticos das várias esferas dos poderes executivo e legislativo deste país -, que insistem em querer deixar o povo brasileiro com “cara-de-palhaço”.

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