segunda-feira, 12 de setembro de 2011

MONOGRAFIA

MINHA MONOGRAFIA (PARTE V) Dando continuidade às postagens de meu trabalho de conclusão de curso, chegou a vez de darmos uma olhada em como eu revisitei o cristianismo, traçando algumas pontuações de outras doutrinas e religiões. Acompanhe e deixe seu comentário. Obrigado!!!
3 O CRISTIANISMO REVISITADO A Bíblia, escrita originalmente em hebraico, aramaico e grego, e hoje traduzida para mais de 2 mil línguas e dialetos do mundo inteiro, é composta, segundo os católicos, de 73 livros e, segundo os protestantes, de 66, contendo ensinamentos, aventuras, personagens reais e míticos, poemas e, principalmente, a história do povo hebreu de adoração e busca de seu Deus. Esses relatos começaram a ser redigidos em cerâmica e pergaminho, cerca de 2.800 anos atrás. Os hebreus, ou israelitas como também são chamados, diferenciaram-se dos demais povos antigos, principalmente, por sua adoração a um único deus – Javé ou Jeová, um deus ora com características de pastor (guia, condutor do seu rebanho), ora com características de guerreiro (expressão da luta e da certeza de vitória sobre os inimigos e as adversidades da vida). As demais religiões antigas eram caracteristicamente politeístas, constituídas de um panteão de vários deuses que se dedicavam a proteger seus adoradores, abençoar as atividades humanas, como plantio e colheita, ou ainda representar arquetipicamente as expressões e sentimentos humanos como o amor, a bondade, o castigo, o sofrimento, etc. Ainda que se considerasse um poder divino central, ele não era onipotente ou hegemônico e sim resultante dos demais poderes de outros deuses e/ou semi-deuses. Javé, no entanto, vai ser para os hebreus o Deus todo-poderoso, criador do céu, da terra, de todos os seres e coisas do mundo, diante do qual não se poderia admitir adoração a nenhum outro deus, forma ou expressão divinas, que, a partir do pensamento religioso hebraico, se tornariam ídolos, que só conduziriam os povos à idolatria, à perdição e, consequentemente, ao desfavorecimento da graça divina. “Tirai do meio de vós os deuses estrangeiros, purificai-vos e mudai vossos vestidos” (Gen. 35,2). Jacó, um dos patriarcas da fé cristã convoca sua família a uma mudança de comportamento religioso, pois considera que Jeová o ouvira em sua aflição. Perceba-se que mudar hábitos, vestimentas e costumes é uma forma mordais de desculturalizar e assim enfraquecer a tradição de um povo. “Eis o que diz o Senhor, o Deus dos hebreus: até quando recusarás humilhar-te diante de mim? Deixa ir o meu povo para que ele me preste o seu culto” (Ex. 10,3). Aqui, Moisés e Aarão ameaçam Faraó de enviar gafanhotos por todo Egito para devorar toda a colheita e todos os campos, caso a ordem do Senhor não seja cumprida. Note-se que aqui Javé exige de Faraó humilhação e obediência, como se este estivesse sob seu jugo – inversão de valores: é o povo hebreu que está sob o jugo egípcio. A saga do povo hebreu é capitaneada pela adoração e pela proteção de Javé. Onde quer que fossem, tornavam-se numerosos e constituíam uma ameaça à nação ali instalada. No Egito, o Faraó, percebendo a proximidade do perigo, tomou duras medidas contra eles, mas segundo o relato bíblico, Javé fez de Moisés o libertador de seu povo. O livro sagrado dos cristãos é dividido em Velho e Novo Testamentos, sendo que o primeiro relata os eventos desde a criação, com Adão e Eva, passando pelos patriarcas hebreus, Noé, Abraão, Jacó, Moisés, Davi e Salomão; o segundo narra a vida , “paixão” e morte de Jesus, o Cristo, considerado pelos cristãos o redentor, o filho de Deus Altíssimo, mas para os judeus (povo descendente dos hebreus e israelitas) apenas mais um profeta de Javé. A Bíblia, também chamada de “A Palavra de Deus”, por todos os cristãos, apesar de ter autores variados e de diferentes épocas, por ser considerada uma inspiração do Espírito Santo, deve ser compreendida como tendo uma só autoria, a de Deus. Comparada aos Vedas (compilação dos livros sagrados dos hindus) a Bíblia pode ser vista como apenas mais uma das muitas tentativas de se explicar a origem do mundo, da humanidade e sua necessidade de espiritualidade, de religiosidade, sua “natural” predisposição a alimentar o espírito, alimentar a alma. O Dhamapada dos budistas e o Tao te King dos taoístas trazem, assim como a Bíblia, profundos ensinamentos morais e comportamentais, dentro de uma perspectiva “religiosa”. “Lute por lutar, sem considerar felicidade ou tristeza, perdas ou danos, vitória ou derrota – e, agindo assim, você nunca incorrerá em pecado” (Prabhupada, 1976, p. 80). Krishna, no Bhagavad-Gita instrui Arjuna para uma luta na Terra; exorta-o a esquecer seus laços familiares e lutar para conquistar o reino de Mahabharata ( a Índia), pois um general como ele jamais deve abandonar seu “dever” de lutar a despeito dos adversários (ainda que fossem pessoas veneráveis). A força, a idéia de combate, a honra e a altivez do espírito ali estão presentes, valorizando a auto-estima e aquilo que o filósofo alemão chamaria de “vontade de potência”. “Quem de boa vontade carrega o difícil, supera também o menos difícil. Quem sempre conserva a quietude, é senhor também da inquietude. Por isto, o sábio carrega de boa mente o fardo da sua jornada terrestre” (Rohden, 1982, p. 80). Neste trecho o Tao te king destaca o fardo de viver neste mundo como etapa para a elevação dos grandes homens, dos sábios. Também aqui percebemos o sentido de resistência como virtude para a ascensão. No budismo, Buda não é deus, nem é nome próprio, é o título dado àquele que alcançou o nirvana, a iluminação. O budismo é menos religião e mais filosofia. Nietzsche o considerava uma religião “higiênica”, querendo dizer com isso que o budismo não trazia podridão à vida, como ele considerava que o cristianismo traz. Para o islamismo, Maomé não é deus, nem filho de deus, é apenas um profeta, e o Alcorão é o livro dos preceitos divinos. Entretanto, tendo a mesma origem do judaísmo e do cristianismo, estabelece sua fé em um deus único. É verdade que na Bíblia também podemos encontrar passagens que convocam os homens para a luta e para a resistência, mas, nas entrelinhas, ressoa a moral cristã, onde menos vale o homem e mais vale a ordem do Deus todo-poderoso. O que se pretende aqui é mostrar que há outras grandes religiões no mundo, no entanto, o cristianismo, postula ou impõe à humanidade uma única via, sem a qual os seres humanos estão excluídos do “reino dos céus”, uma filosofia de pregação contra a natureza e a vida, ou se auto-intitula religião do povo eleito por Deus. O que se vê, ao longo da História, é a busca de vários povos em se auto-preservarem, criando para si, conforme a necessidade, filosofias e práticas que alicerçam-se em divindades antropomórficas e arquetípicas e em prol de uma vida melhor. O cristianismo não passa de mais uma dessas perspectivas. As bases da crítica nietzscheana ao cristianismo estão no fato de ele ser a religião predominante no Ocidente, conseqüentemente na Europa, e de, no exercício do seu poder paralelo ou simbólico, a Igreja, ter alquebrado o espírito humano com seus postulados contrários à vida (pecado original, perdição humana, juízo final, etc.) e, sub-repticiamente, ter tolhido e combatido nossa “vontade de potência”, à maneira como a compreende o filósofo. Nietzsche, com sua perspectiva histórica, nos lembra o seguinte: “(...) nenhum deus era a negação, a blasfêmia de um outro deus!” (Nietzsche, 2003, p. 123). O filósofo prussiano usa sua mais instintiva visão histórica para declarar: “Olhar a natureza como uma prova da bondade e da providência de um deus, interpretar a história em honra de uma razão divina, como o testemunho constante de uma ordem e de um finalismo moral do universo, explicar tudo o que vos acontece, à maneira das pessoas piedosas, por uma intervenção divina, um sinal, uma premeditação, uma mensagem da Providência tendo em vista a salvação da nossa alma, tudo isso é passado, a consciência opõe-se a isso; não há consciência um pouco sutil que não veja aí inconveniência, deslealdade, mentira, feminilidade, fraqueza, covardia; é esta severidade, mais do que qualquer coisa, que faz de nós bons europeus, herdeiros da mais longa e da mais corajosa vitória que a Europa obteve sobre si” (NIETZSCHE, 2003, p. 202).

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