quinta-feira, 15 de setembro de 2011

NIETZSCHE E EU NAS BANCAS

NIETZSCHE - "O CREPÚSCULO DOS SONHOS"


"Antes mesmo que a Europa fosse o palco das duas Grandes Guerras, um filósofo analisava a desilusão e a falta de esperança na vida da sociedade europeia, criticava os valores morais e arrancava do Ocidente sua última muleta espiritual – Deus. Como um psicólogo de sua nação, a Alemanha, Nietzsche combatia contra a filosofia de seus compatriotas, percebia que a virilidade e o orgulho alemães eram traços germânicos indeléveis e antecipava os riscos que representava para o continente aquela que seria a protagonista dos maiores conflitos mundiais de todos os tempos".

Esse é o texto de chamada do meu artigo "O Crepúsculo dos Sonhos, publicado na Revista "Nietzsche Vol.II" (Editora Escala). Nele, analiso como o filósofo lança seu olhar sobre os acontecimentos e valores culturais de sua época, tecendo ali sua filosofia de contraposição. Aí, logo se vê que ele se tornará uma pedra no sapato do convencionalismo e do tradicionalismo, em vista de que percebe que “o valorar errado levou toda a Europa a um viver errado”. Esse papel de intérprete crítico e psicológico de seu tempo e lugar exigirá dele que lance mão de novos valores e representações, sob pena de sucumbir às mesmas “velhas verdades e convicções” que vitimaram seus contemporâneos.

Para uma melhor compreensão da filosofia nietzschiana, é necessário despojar-se de algumas concepções e valores culturais e religiosos, pois, de uma forma ou de outra, foram esses os atacados por esse filósofo. Isso não significa que o estudante deva abdicar de suas convicções ou ignorar seus valores em definitivo, não! Significa que seus valores e convicções não devem se impor aos temas e pontos estudados, sob pena de este estudo se tornar um embate de valores e convicções, o que não será nada proveitoso. Compreender o universo nietzschiano é mergulhar na solidão, na doença e no contexto historicocultural do filósofo. Nenhum desses três elementos pode ser considerado isoladamente ou mesmo deixado de lado. Outro fator importante é manter sempre uma análise interpretativa e psicológica direcionada para os conceitos e representações do autor. A preocupação da Filosofia com os conflitos interiores e exteriores do homem são, como se sabe, os fomentadores do surgimento da Psicologia e da Sociologia. As guerras entre povos e nações, os conflitos políticos, a desagregação social, a submissão da razão à fé serão para Nietzsche a matéria-prima de sua nova filosofia: a filosofia do martelo.

Voltando ao meu artigo, lá eu digo: "Alguns comentadores da obra de Nietzsche dizem que a forma aforismática como escrevia dava vazão às mais variadas interpretações, ao modo como fazem os que lêem os escritos deixados por Nostradamus; por outro lado, há outros que enxergam na obra de Nietzsche não fragmentos mas apontamentos que precisavam ser registrados por ele imediatamente, antes que sua mente intempestiva investisse para novas questões, num mundo em que o que estava em ruínas ainda precisava tornar-se pó, para semelhante à Fênix, ressurgir em todo seu esplendor. Percebendo desta maneira o conjunto de sua obra, vemos que as partes se encontram e se juntam, como se juntariam para formar o quadro que estava logo à sua frente, ainda no alvorecer do século XX".

Enfim, Nietzsche é um filósofo polêmico e instigador que influenciou muitos outros pensadores e ainda influencia leitores, estudiosos e professores de filosofia, talvez por isso haja tantas publicações nos últimos tempos a seu respeito. Eu, como bom nietzschiano que sou, não deixo de estudá-lo praticamente todos os dias, e estou convencido de que ele, algum dirá, me desvelará sua filosofia.

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