quarta-feira, 25 de abril de 2012

ABRINDO CAMINHOS ATÉ NIETZSCHE (Parte I)

LITERATURA OU FILOSOFIA?

A literatura e a filosofia se unem, mas não se confundem. Para a literatura são necessários o escritor e o leitor – o primeiro deve ter habilidade na escrita, conhecimento da língua e das normas gramaticais dela, e, muitas vezes, boa dose de imaginação ou criatividade; o segundo deve ser capaz ler e compreender, com certa sensibilidade, e também precisa dominar a língua em questão. À filosofia são necessários o pensador/escritor e o pensador/leitor – o primeiro também deve ter habilidade na escrita e domínio da língua e da gramática, mas, além disso, deve ter raciocínio lógico, visão crítica da realidade e capacidade de argumentação; o segundo, do mesmo modo, também deve ser capaz de ler e compreender, porém, acima de tudo, deve ser capaz de apreender e aplicar na vida, se for possível, o conhecimento que se desprende do que lê.

Alguns filósofos possuem obras que podem ser lidas apenas como literatura. Nesse caso, o leitor utiliza-se delas como entretenimento, às vezes, fazendo anotações, para serem utilizadas, posteriormente, como citações, que, de certa forma, podem conferir a ele certo grau de “erudição”. Outros jamais poderão ser lidos como entretenimento, devido à rigidez do estilo e à exigência de um raciocínio atuante ao longo de toda a obra.

A obra de Friedrich W. Nietzsche encontra-se no limiar desses dois casos e, eventualmente, um livro ou outro, se isola apenas dentro de um desses casos. Quem optar por ler “Assim falou Zaratustra”, por exemplo, terá em suas mãos um bom livro de literatura, pois nele há uma trajetória narrativa repleta de personagens fictícios, típica do imaginário de um literato; porém, por outro lado, quem optar por ler “A Gaia Ciência” terá que ter a habilidade de interpretação filosófica e, além disso, um conhecimento prévio da própria filosofia do autor, para evitar que tome a liberdade de fazer suas próprias interpretações, que, certamente, nada terão a ver com a obra.

Nesse sentido, proponho que o pretenso leitor de Nietzsche, em primeiro lugar, esteja ciente da sua própria intenção ao decidir-se por ler esse filósofo, isto é, saber de antemão se ele está em busca de literatura ou de filosofia, e, em segundo, mas não menos importante, em caso de buscar por filosofia, assegurar-se de que tem, ou pretende desenvolver, a habilidade para tanto. Devo acrescentar que em nenhum dos casos há demérito para o leitor, ou mesmo para a obra. Como disse anteriormente, é puramente “opcional”, pois, em ambos os casos, tomadas essas precauções, indubitavelmente, cada leitor alcança o seu objetivo.

Convido, portanto, o leitor deste blog, a partir deste artigo, a acompanhar minhas considerações sobre a obra de Nietzsche, no intuito de facilitar sua compreensão e colaborar na apreensão das principais ideias levantadas em cada obra, que vir a ser analisada. Tendo a pretensão de considerar-me suficientemente competente para tanto, uma vez que, muitas são as razões que me fazem pensar assim, a saber: 1)leio sua obra há mais de três décadas; 2)graduei em Filosofia defendendo uma monografia embasada nela; 3)tenho vários artigos sobre ela, publicados em revistas nacionais e em vários blogs espalhados Internet afora; e, 4)acima de tudo, por ser também eu um filósofo, me identifico com boa parte do que ele deixou escrito, à qual já tive acesso. Isso explicado, sigamos!

Apresento-o como uma ferramenta útil e não como uma chave que abre uma espécie de "segredo", sem a qual o leitor não teria sucesso. Essa “ferramenta”, como escrevi no título deste texto, pretende "abrir caminhos até Nietzsche". Então, que venham muitos através dele, é o que sinceramente espero!


Nota: Espero contar com professores, filósofos, estudiosos e colegas na correção de algum deslize, de qualquer ordem, que eu venha a cometer, pois, certamente serão de grande contribuição para o presente trabalho.
Muitíssimo obrigado, desde já, a todos!

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